Como eu poderia fazer um estudo bíblico?
Qual método seria o mais correto segundo a Igreja?
Estamos aqui para tentar responder a estas e outras perguntas.
Por isso recorremos em primeiro lugar a alguns documentos da Santa Igreja.
(esse estudo é a primeira parte de uma trilogia e no final deste texto você poderá acessar a continuidade do estudo)
Introdução
Na Verbum Domini nº 86, o Papa Bento XVI junto com os bispos do mundo inteiro nos relembraram a Dei Verbum nº 25:
“Todos os fiéis «debrucem-se, pois, gostosamente sobre o texto sagrado, quer através da sagrada Liturgia, rica de palavras divinas, quer pela leitura espiritual, quer por outros meios que se vão espalhando tão louvavelmente por toda a parte, com a aprovação e estímulo dos pastores da Igreja. Lembrem-se, porém, que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada de oração».”
Então aprendemos desse trecho que devemos ir à Escritura com gosto, com atenção, amor e oração.
Santo Agostinho já ensinava que:
«A tua oração é a tua palavra dirigida a Deus;
quando rezas, és tu que falas a Deus;
Quando lês, é Deus que te fala.»
Com relação ao método de leitura bíblica, a exortação faz harmonia com centenas de santos, papas e monges:
“...prestou-se maior atenção ao método da lectio divina, que «é verdadeiramente capaz não só de desvendar ao fiel o tesouro da Palavra de Deus, mas também de criar o encontro com Cristo, Palavra divina viva».”
Verbum Domini 87
E prossegue lembrando das grandes graças que se pode alcançar com essa prática:
“...quero lembrar a importância da leitura pessoal da Escritura como prática que prevê a possibilidade também de obter a indulgência para si próprio ou para os defuntos:
Concede-se a indulgência plenária ao fiel que ler a Sagrada Escritura, num texto aprovado pela autoridade competente, com a devoção devida à palavra divina e a modo de leitura espiritual, pelo menos meia hora; se a leitura durar menos tempo, a indulgência é parcial1”
Quero apontar para a importância de alguns trechos da Verbum Domini, nº 86:
“... na leitura orante da Sagrada Escritura, o lugar privilegiado é a Liturgia...”
Não se cansa de afirmar a importância da Lectio Divina e aponta sua relação com a Eucaristia:
“... a leitura orante pessoal e comunitária deve ser vivida sempre em relação com a celebração eucarística.”
A Lectio se torna o principal meio para maior aprofundamento da liturgia celebrada:
“... a leitura orante pessoal e comunitária prepara, acompanha e aprofunda o que a Igreja celebra com a proclamação da Palavra no âmbito litúrgico.”
E que ela pode ser um instrumento poderoso entre pastoral e sacramento:
“Colocando em relação tão estreita lectio e liturgia, podem-se identificar melhor os critérios que devem guiar esta leitura no contexto da pastoral e da vida espiritual do Povo de Deus.”
Com estas simples palavras o nosso caminho já está traçado:
É preciso ler as Escrituras com a Igreja no seu caminhar litúrgico.
Os dois caminhos
Mas para isso temos não só a liturgia da Santa Missa, para quem não conhece, temos ainda um subsídio, riquíssimo e que também acompanha o tempo litúrgico:
O Ofício das Leituras da Liturgia das Horas.
Ele também tem suas leituras próprias de trechos das escrituras. Ele abrange uma maior quantidade de versículos bíblicos e tem a grande vantagem de vir acompanhado de uma seleção especialíssima de textos dos santos, da patrística e do magistério que aprofundam o texto bíblico de cada dia em profunda harmonia com o tempo litúrgico.
É um instrumento profético.
Uma poderosa preparação para bem viver a liturgia Eucarística.
Mas os ciclos da liturgia da missa também são muito bem distribuídos.
Então temos dois caminhos para se trilhar:
A liturgia da Missa
As leituras do Ofício das Leituras
Mas ambos os caminhos podem ser vividos unidos tirando o de melhor que temos em cada um. E é essa a nossa proposta.
Antes, vamos explicar melhor os ciclos de cada caminho desse.
A liturgia da Missa
Na liturgia da missa temos dois ciclos:
Ciclo dominical
Ciclo ferial
No ciclo dominical temos as leituras bíblicas distribuídas aos domingos no período de 3 anos, assim chamados de ano A, ano B e ano C. Dão um panorama geral das escrituras apesar de cobrir uma parcela pequena da bíblia. É um bom meio para planejar um estudo mais profundo dos evangelhos propostos a cada semana.
No ciclo ferial, que são as leituras da missa que acontecem de segunda a sábado, temos duas situações:
Todos os evangelhos são lidos em um ano. A cada ano se repetem.
Os outros livros bíblicos são cobertos no período de dois anos. Esse anos se chamam de ano 1 ou ano ímpar e ano 2 ou ano par.
Temos também o santoral, que são as memórias, festas e solenidade dos santos que interrompem o ciclo litúrgico e a sequência dos textos bíblicos. Quanto ao santoral, recomendamos não considerá-los para efeito de estudo bíblico pessoal, ou seja, você os celebra na liturgia, mas na sua oração pessoal, no seu estudo bíblico, você continua o ciclo da liturgia para não perder a sequência da leitura dos textos. Se considerar as interrupções que acontecem, você perderá grande parte, caso seu objetivo seja não só a leitura diária, mas contemplar as escrituras na sua totalidade.
O Ofício das Leituras
O Ofício das Leituras da Liturgia das Horas, que é a antiga Vigílias do Divino Ofício, possui na sua estrutura diversos salmos que são rezados e duas leituras:
Uma leitura bíblica
Uma leitura hagiográfica (dos santos, especialmente os do início do cristianismo ou do magistério da Igreja)
A leitura bíblica do Ofício das Leituras abrange todos os livros da Sagrada Escritura, excetuando-se os evangelhos (onde seu lugar próprio é na Missa) e os salmos (que são rezados por toda a liturgia das horas).
As leituras dos santos ou do magistério são uma coletânea fabulosa do que há de mais sublime na literatura espiritual da história da Igreja. Um verdadeiro manancial para beber diariamente junto com os textos bíblicos.
Temos dois ciclos à nossa disposição:
Ciclo anual - que distribui os textos dos livros bíblicos no período de um ano.
Ciclo bienal - que distribui os textos dos livros bíblicos no período de dois anos.
Qual melhor ciclo para meditar os Evangelhos, os Salmos e o restante dos livros bíblicos?
A grande dúvida é:
Qual destes ciclos eu devo seguir?
Qual seria o ideal?
Qual cobre maior parte das Escrituras?
Em primeiro lugar, fica como óbvio que a prioridade se deve dar aos Evangelhos, que contém o núcleo das Escrituras, a vida e palavras de Cristo; e que este só se encontra na liturgia da Santa Missa, seja no ciclo dominical, seja no ferial. E considerando que eles são o núcleo e o cume de toda a bíblia, recomendamos que sejam lidos nos dois ciclos, ou seja, diariamente.
Com relação aos Salmos, eles devem ser rezados. E você tem 3 opções:
Rezar o salmo do dia apresentado na liturgia diária da Santa Missa;
Rezar os salmos em algum dos horários apresentados na Liturgia das Horas;
Rezar os salmos em algum dos horários apresentados no Divino Ofício Monástico.
Sobre o salmo do dia, você pode encontrá-lo facilmente nos mais diversos recursos hoje à nossa disposição: no diário espiritual que disponibilizamos, livros, aplicativos, sites, etc.
Sobre os salmos na liturgia das horas você também pode acompanhar nos livros próprios, na internet, em aplicativos ou no Saltério Devocional que falaremos nos próximos dias por aqui.
Sobre a oração dos salmos seguindo o método monástico, vamos dar especial atenção e uma série de publicações aqui, pois é o método que utilizo atualmente. Nos acompanhe.
Agora, com relação aos outros livros bíblicos, peço sua especial atenção para entender a estatística da distribuição deles nos diversos ciclos e qual você pode optar.
Apresentemos agora os dados estatísticos de utilização dos livros das escrituras segundo os principais métodos demonstrados acima.
Dados estatísticos
A cobertura bíblica dos livros restantes no ciclo dominical é muito pequena, por isso descartamos logo esse ciclo.
Resta-nos analisar então:
o ciclo ferial da missa
o ciclo anual do ofício das leituras
o ciclo bienal do ofício das leituras
A bíblia tem um pouco mais de 29 mil versículos bíblicos excetuando-se os evangelhos e os salmos.
Destes 29 mil versículos, todos os ciclos acima não percorrem na sua totalidade, mas dão uma visão panorâmica formidável de toda a história e ensinamento bíblico. Você pode usar qualquer um deles, complementando ou não o que lhes falta de cobertura.
Mas para melhor conhecimento, fiz os cálculos e lhes apresento os percentuais de cobertura bíblica:
Ou seja, considerando a leitura dos evangelhos, a cobertura de seria nesta ordem:
Ofício das Leitura bienal com 51,5% (+ 704 comentários dos santos e magistério).
Ofício das Leituras anual com 31% (+ 385 comentários dos santos e magistério).
Primeira leitura da missa com 19,4%.
Por tudo isso, concluímos e recomendamos que se medite diariamente o Evangelho do dia com as Leituras do dia do Ofício das Leituras do ciclo bienal.
Aqui no nosso perfil do Substack temos já publicados praticamente todos estes textos.
E a cada dois meses publicamos gratuitamente um e-book para impressão e uso como diário espiritual com todas as passagens de cada dia para que você possa utilizar na bíblia sem recorrer ao celular.
Publicaremos um e-book para ser usado à parte com os textos dos santos e magistério. Assim você não precisará recorrer à internet para acessar todo esse conteúdo na sua oração.
Considere fazer uma doação para que possamos continuar esse trabalho missionário. Sou apenas um oblato beneditino que precisa de apoio para suster essas obra em suas várias plataformas e adquirir os livros necessários para trazer esse conteúdo mastigado para vocês.
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Se precisar de mentoria ou atendimento para auxiliar na sua vida pessoal e espiritual, uma terapia aliando vida pessoal com a vida espiritual, pode me chamar no Whatzapp em https://bit.ly/alessandrosilva
Deus abençoe você e sua família enormemente!
🙏
Verbum Domini 87
Paenitentiaria Apostolica, Enchiridion Indulgentiarum. Normae et concessiones (16 de Julho de 1999), concessão n. 30-§ 1.
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