Missão Ofício das Leituras

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Brevíssima História da Liturgia das Horas
Escrituras

Brevíssima História da Liturgia das Horas

Trecho do nosso e-book

nov 05, 2024
∙ Pago
4

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Brevíssima História da Liturgia das Horas
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Amados, na semana que vem vou publicar um subsídio riquíssimo para nossa oração diária: o Ofício Divino Monástico Simplificado.

Em preparação para isso vou publicar uma série de textos aqui nesta semana.

Hoje, trago aos nossos leitores um trecho do e-book da figura acima, que publiquei em 2020 e no final desse texto, disponibilizo ele completo aos membros colaboradores para download.

Brevíssima história da Liturgia das Horas

Antecedentes judaicos

A base da Liturgia das Horas são os Salmos. Estes são rezados desde a época do rei Davi, conforme nos relata as escrituras, que nos dizem ser ele um dos principais autores. Então, poderíamos dizer que nossa história esplanada aqui começa a mais de mil anos antes de Cristo. O povo judeu, escolhido por Deus, teve uma trajetória de alegrias grandiosas e dificuldades terríveis na história e os Salmos sempre estiveram na boca do povo dando amparo e sustento na oração para festejar as vitórias e erguer um clamor nos sofrimentos.

Hilario Suñer diz que “a oração cristã deve ser estudada à luz de seus antecedentes judaicos”. E Canals relata:

“A oração judaica pressupõe a história religiosa de seu povo. Israel reza meditando sempre sua história. Iahweh é o mistério de sua eleição e história, é o diálogo com seu povo ao qual se revela e em cujo meio permanece, e é quem age prodigiosa e silenciosamente com suas intervenções. A oração de Israel, podemos afirmar, jamais interrompe o ritmo de sua história, porque sua história é história de sua oração, não se podendo entender essa sem aquela.” (CANALS, 2000, p. 268).

Cada Salmo tem um peso histórico e espiritual de milhares de vidas impactadas, que as conectaram com Deus dia a dia. “É o livro de oração por excelência”, nos disse o Papa Bento XVI na catequese sobre o livro dos salmos (22/jun/2011). O povo judeu criou o costume de reunir a família para rezar diariamente em casa nos mesmos horários em que se rezava lá no templo de Jerusalém: de manhã, ao meio dia e no início da noite. Também foram criando as sinagogas para oração comunitária semanal aos sábados. E anualmente eram recomendadas as peregrinações, romarias ao templo de Jerusalém para celebrar três grandes festas do ano: a Páscoa, Pentecostes e a festa dos tabernáculos. Criou-se assim um ritmo diário que nasce dentro das casas, com as famílias; um ritmo semanal na comunidade, nas sinagogas e um ritmo anual em união com todo o povo de Deus no templo, quando possível.

O ambiente familiar e comunitário era inundado com a leitura orante da Palavra de Deus. A oração diária familiar continha 18 bênçãos nos 3 horários e o Shemá (com 3 benditos e 3 leituras) em dois horários. Tanto as 18 bênçãos quanto o Shemá era misturados com vários Salmos. As pessoas aprendiam de memória textos, cânticos, orações, bênçãos e salmos. Isso mantinha a unidade do povo no presente, a lembrança dos feitos do passado e a esperança no futuro.

Em Jesus Cristo

Jesus nasce nesse ambiente de oração. Nossa Senhora, no seu canto ‘Magnificat’ (Lc 1, 46-55), expressa sua inspiração no canto de Ana, pronunciado por ocasião do nascimento de seu filho, o profeta Samuel junto com trechos de alguns salmos. O mesmo se pode dizer do ‘Benedictus’ entoado por Zacarias (Lc 1, 68-79). Jesus rezou também com os salmos junto à Sagrada Família. Todo judeu, desde criança, aprendia a rezar os salmos de memória. O apóstolo Paulo diz a Timóteo: “desde a infância conheces as Sagradas Escrituras e sabes que elas têm o poder de te proporcionar a sabedoria que conduz à salvação, pela fé em Jesus Cristo” (2 Tm 3, 15). Entender esse ambiente cultural é fundamental. Isso é tradição viva. Algo que devemos resgatar.

Os evangelhos relatam Jesus orando ao acordar (Mc 1,35), antes das refeições (Lc 9,16; 24,30), aos sábados na sinagoga (Mc 1,21; 6,2; Lc 4,16) e indo em Jerusalém nas grandes festas (Lc 2,46-50; Jo 5,1; Lc 22,7-14). Portanto, Jesus vivia o ritmo diário, semanal e anual das orações judaicas. O evangelho ainda relata Jesus e os discípulos indo para o monte das oliveiras depois do  canto dos salmos (Mt 26,30). Está claro o uso dos salmos por Jesus no momento da paixão (Sl 31,6.9-10; 42,5-6; 22,1; Lc 24,44). Os evangelistas explicam a paixão de Cristo como cumprimento das profecias de vários salmos (Sl 35,4; 22,9.19; 69,22; 41,10; 34,21). Há vários sinais do uso dos salmos no ensinamento de Jesus (Mt 5,4 e Sl 37,11; Mt 5,5 e Sl 126,5; Mt 5,8 e Sl 24,3-4; Mt 6,4 e Sl 139,2-3; Mt 6,25-34 e Sal 127; Mc 12,1 e Sl 80,9-19; Jo 10,11 e Sl 23; Mt 21,16 e Sl 8,3; Mt 21,42 e Sl 118,23; Mt 22,44 e Sl 110,1; Mc 14,62 e Sl 110,1).

Na Igreja nascente

Outro fato marcante é o relato das orações nos horários diários e o uso dos salmos nas pregações e orações da Igreja nascente nos Atos dos Apóstolos. Exemplos: São Pedro cita salmos durante a pregação pós pentecostes (At 2,25-35), Pedro e João vão ao templo para rezar na hora nona (At 3,1), os Apóstolos decidem se dedicarem exclusivamente à oração e pregação da palavra (At 6,4), Pedro reza na hora sexta no terraço (At 10,9), Cornélio faz oração na nona hora (At 10,30), Paulo e Silas à meia noite na prisão rezam e cantam hinos (At 16,25). Estes são somente alguns poucos exemplos. São inúmeros os versículos que falam da incessante oração dos primeiros cristãos. E que tipo de oração era essa? Além do Pai-nosso, da Eucaristia e das orações livres, temos várias citações dos usos dos salmos: “Sob a inspiração da graça cantai a Deus de todo o coração salmos, hinos e cânticos espirituais” (Col 3,16) e “Recitai entre vós salmos, hinos e cânticos espirituais. Cantai e celebrai de todo o coração os louvores do Senhor” (Ef 5,19).

Os salmos na mão dos cristãos, passou por um processo de “cristianização”. Que não significa algum tipo de distorção, mas de interpretá-los à luz de Cristo, que leva à perfeição a história da salvação do povo de Deus. As primeiras comunidades foram formadas por pessoas que conviveram com Jesus ou aos seguidores dos apóstolos e o desejo deles era imitar o Mestre, fazer o que o Cristo fez na busca de maior comunhão, unidade. Olhando para o modo de rezar da comunidade, encontramos de certa forma também sinais da oração de Jesus e de como ele queria que sua Igreja vivesse na oração. Os salmos fazem parte essencial dessa vida de oração comunitária. Sobre os salmos nos diz Bortolini:

“Apesar de serem muito antigos, os salmos são eternamente jovens, capazes de falar à alma dos homens e mulheres de todos os tempos e lugares. Por isso é que podemos considerá-los como espelhos nos quais nos vemos, nos movemos e existimos. Falam tão bem de nossa vida, das alegrias e esperanças, das dores e dos conflitos, que parecem ter sido escritos em nossos dias e para o hoje da nossa caminhada.”

A oração cristã e também a judaica não é nenhum instrumento de alienação, muito pelo contrário, reza-se para unir-se mais a Deus e saber reconhecer sua ação misteriosa na história buscando transformar concretamente a realidade daquilo que não está de acordo com a vontade de Deus.

Segundo R. González:

“O mandato de Jesus de “rezar constantemente” influiu decisivamente na comunidade apostólica. Sabemos pelos Atos dos Apóstolos que os discípulos frequentavam diariamente o templo (At 2,46; 5,12; 5,19-21). E Lucas termina o relato da ascensão em seu evangelho com afirmação paralela: “Quanto a eles (os discípulos), após se terem prostrado diante dele, voltaram para Jerusalém, cheios de alegria, e estavam sem cessar no templo, bendizendo a Deus” (Lc 24,52-53).”

Na Patrística

O liturgista espanhol, Julián López Martin, disse que “a história do ofício divino significa a perseguição, ao longo dos séculos, do ideal: ‘É preciso orar sempre’”.

         A Didaché, escrita por volta dos anos 70 a 90 d.C., relata três momentos no dia de oração pelos cristãos onde eles rezavam o Pai nosso, pela manhã, ao meio-dia e à tarde no pôr do sol. Na carta aos Coríntios, escrita por volta do ano 96 por São Clemente Romano (quarto papa, ordenado presbítero pelo próprio São Pedro, conforme Tertuliano), ele relata sobre a importância de se orar nos momentos precisos:

“Sendo óbvias todas essas coisas e tendo nós sondado as profundezas do conhecimento de Deus, devemos fazer com ordem tudo aquilo que o Senhor nos mandou cumprir nos tempos determinados: Mandou-nos oferecer os sacrifícios e celebrar o culto, não ao acaso ou desordenadamente, mas com tempos e horas marcadas (40, 1-2) ... “Aqueles que fazem suas oferendas dentro dos tempos determinados, são-lhe agradáveis e abençoados, já que seguem as determinações do Senhor e não pecam” (40,4).

Santo Hipólito de Roma (160-235), que foi discípulo de Santo Irineu, que foi discípulo de São Policarpo, que foi discípulo do apóstolo São João escreveu a obra ‘Tradição Apostólica’ onde faz uma relação entre as horas terça, sexta e nona com a paixão de Cristo:

“Se estiverdes em casa, rezai e bendizei a Deus na hora terceira. Se estiverdes num outro local, rezai a Deus no coração, pois foi nessa hora que Cristo se viu pregado no madeiro. Também por essa razão, a Lei do Antigo Testamento prescreve que se ofereça o pão da proposição, como imagem do Corpo e Sangue de Cristo, e a imolação do cordeiro, como imagem do Cordeiro perfeito: Cristo é o Pastor e o Pão que desceu do céu. Rezai, igualmente, na hora sexta, pois quando Cristo foi pregado na cruz, o dia se dividiu e as trevas surgiram. Nessa hora, todos rezarão uma oração fervorosa, imitando a voz Daquele que, ao rezar, cobriu de trevas toda a criação perante os judeus incrédulos. Façam, ainda, uma grande prece exaltando o Senhor por volta da hora nona, para sentirem como a alma dos justos glorifica a Deus, que não é mentiroso e lembra dos seus santos, enviando seu Verbo para iluminá-los. Foi nessa hora que Cristo, ferido no lado, verteu água e sangue, e iluminou o resto do dia até o final da tarde. Começando a dormir, Cristo originou o dia seguinte e concluiu a imagem da ressurreição. Rezai ainda antes de dormir. Por volta da meia-noite, levantai, lavai as mãos com água e rezai.” (41).

Além deste relato sobre as horas médias, temos as horas principais, a oração da manhã e da tarde que já citamos acima como costume consolidado entre os cristãos desde o início. Tertuliano de Cartago (†220) e São Cipriano (†258) as chamam de horas legítimas.

         No ano de 313, quando o imperador descriminalizou o cristianismo,

(...) os cristãos passaram a ter público culto e nasceu a necessidade de se organizar mais adequadamente a oração coletiva nos templos. Assim, a Liturgia das horas ganha sistematização, até mesmo porque a celebração eucarística não era diária, porém semanal (dominical), ficando nos demais dias da semana acesa a chama da oração bíblica partilhada, como forma de santificação do tempo do dia e também de se fazer memória da Sagrada Escritura, particularmente dos Salmos e dos Evangelhos (Pedro Sérgio dos SANTOS, 2010, p. 62).

Com a permissão do império romano do culto público cristão, tivemos dois tipos de manifestações de oração diária entre os cristãos:

  • Um na cidade, com organização em torno da igreja local onde começou-se a rezar em comunidade o ofício em dois horários, oração da manhã e da tarde junto com toda a igreja, leigos, sacerdotes, monges que escolheram ficar na cidade, diáconos e bispos. A Eucaristia era celebrada somente aos domingos, por isso o Ofício Divino era a oração voltada à santificação dos dias da semana. Eusébio de Cesareia († 339) relata hinos e louvores que se elevam na Igreja inteira e por toda parte, pela manhã e à tarde. Epifânio de Salamina († 403) escreveu que “na Igreja universal celebram-se assiduamente as laudes, as orações matutinas, e assim também os salmos e as orações lucernárias”. São João Crisóstomo († 407), alerta aos catecúmenos que essas celebrações constituem parte importante da tarefa (“ofício”) diária na vida do cristão. Seja rezada em casa ou na igreja próxima, os cristãos buscavam viver o pedido bíblico “orai sem cessar” no encontro diário com o divino. Um escrito chamado ‘Peregrinação  de Etéria’ descreve a liturgia por volta do ano 400:

“Cada dia, antes dos galos cantarem, abrem-se todas as portas da Anástasis aos monazontes (monges) e parthenae – como aqui dizem – e não apenas a estes mas também aos leigos, homens e mulheres, que, entretanto, desejem fazer a primeira vigília. Desse momento até o dia claro, dizem-se hinos, responde-se aos salmos e antífonas, e, a cada hino, reza-se uma oração. Dois ou três presbíteros e diáconos alternam, todos os dias, com os monazontes e, a cada hino ou antífona, dizem as orações” (24,1).

  • O outro tipo de manifestação das orações diárias foi no deserto, com os monges que escolheram uma vida solitária mais retirada das cidades, seja isolado, como os padres do deserto, seja em comunidade com nos mosteiros, estes homens de Deus se dedicaram a uma vida mais radical de oração e trabalho. Estes ascetas acrescentam às orações da manhã e da tarde, as horas menores (terça, sexta e nona) e a completas e ofícios noturnos. Algo difícil ao leigo comum, mas possível a quem se dedicou a um estilo de vida mais radical. Em torno deste ritmo de vida de oração nasce e cresce as comunidades monásticas cada uma adaptando a seu modo as orações e tempos.

Outros períodos

Com o tempo, o ofício nas cidades entrou em declínio e o modo monástico se consolidou cada vez mais. A Liturgia das Horas, com o tempo vai se tornando cada vez mais a oração de grupos exclusivos de clérigos e ordens religiosas.

Entre os séculos IV e XV os santos padres nos testemunham a produção e introdução vagarosa de elementos novos ao Ofício como os hinos, antífonas, responsórios e orações. Não havia uma uniformidade, desenvolvendo-se diversos Ofícios nas Igrejas do Ocidente e Oriente. Devido às heresias a Igreja começa a selecionar o material que poderia ser usado na liturgia, iniciando assim a tentativa de uniformidade na celebração do Ofício. O Ofício que se tornará único em todo o Ocidente, nasce da junção do Ofício celebrado na Igreja de Roma com o Ofício conforme a regra Beneditina. O saltério era recitado integralmente toda semana.

Com o passar do tempo houve uma sobrecarga na quantidade de elementos introduzidos no Ofício, chegando ao ponto de necessitar de 7 volumes mais a bíblia para poder se recitar todo o Ofício. Dos séculos X ao XV introduziram-se mudanças para reduzir o Ofício devido a impossibilidade dos missionários carregarem tantos livros consigo, e assim vai surgindo o Breviário, uma abreviação dos livros litúrgicos, e o costume de se rezar mais individualmente devido às diversas ocupações de cada um (o que era exceção começa a tornar-se prática comum).

Reformas

A primeira reforma do Ofício foi chamada de Breviário de Quiñones (ou da Santa Cruz) ocorrida por volta de 1535 foi seguida por mais três: a segunda reforma ocorreu em 1568 feita pelo Papa Pio V, após o Concílio de Trento (durou quase 4 séculos), onde vira obrigatório para os eclesiásticos. A terceira reforma ocorre em 1911 com o Breviário de São Pio X que foi um marco histórico pelas mudanças implementadas, mas algumas outras mudanças planejadas foram frustradas devido à morte repentina do papa e à primeira guerra mundial que interromperam os trabalhos de reformulação.

A última reforma (que durou de 1964 a 1972) foi a do Papa Paulo VI no Concílio Vaticano II, que tinha como objetivo recuperar a ‘verdade das horas’ (fidelidade ao passado), buscando santificar o tempo, a adequação aos tempos atuais e a promoção à maior participação dos fiéis. Também há uma maior revalorização do ano cristológico. Trocou-se a organização semanal do saltério pela de 4 semanas. O Concílio convida os leigos a beberem da Liturgia das Horas como fonte abundante de espiritualidade cristã. O documento Sacrosanctum Concilium diz no número 100: “Recomenda-se aos leigos que recitem o Ofício divino, quer juntamente com os sacerdotes, quer uns com os outros, ou mesmo particularmente”. A Instrução Geral da Liturgia das Horas (nº32) diz para as comunidades religiosas e para os leigos: “...recomenda-se que, tanto quanto lho permitirem as condições em que se encontram, celebrem algumas partes da Liturgia das Horas, porque esta é a oração da Igreja, que faz de todos os que andam dispersos um só coração e uma só alma (At4,32)”.

Edgard Hengemulle relata:

“...(também) o Código de Direito Canônico convida vivamente os fiéis cristãos em geral a participarem na celebração das Horas, ou a sós ou em grupo, ou na igreja ou na família. A Liturgia das horas passou, portanto, não só a estar aberta ao povo cristão, mas voltou a pertencer-lhe novamente de direito. Novamente por quê? Porque nisso, o Vaticano II apenas voltou às origens. Nos primórdios, como se viu na parte histórica, a celebração da oração comum não era da responsabilidade apenas do clero; toda a Igreja local se congregava para essa celebração”.

A Liturgia das Horas ou Ofício Divino é para todos

O sujeito da Liturgia das Horas é toda a Igreja. O convite é extensivo a todos: “não se sintam impelidos unicamente por uma lei a cumprir, mas antes pela reconhecida importância intrínseca da oração e pela sua utilidade pastoral e ascética” (Papa Paulo VI na Laudis Canticum).

O Catecismo da Igreja Católica é claríssimo em seu parágrafo 1175:

“A Liturgia das Horas é destinada a tornar-se a oração de todo o povo de Deus. Nela, o próprio Cristo “continua a exercer sua função sacerdotal por meio de sua Igreja” (SC 83); cada um participa dela segundo seu lugar próprio na Igreja e segundo as circunstâncias de sua vida: os presbíteros, enquanto dedicados ao ministério da Palavra (cf. SC 86, 96; PO 5); os religiosos e as religiosas, pelo carisma de sua vida consagrada (cf. SC 98); todos os fiéis, segundo suas possibilidades: “Os pastores de alma cuidarão que as horas principais, especialmente as vésperas, nos domingos e dias festivos mais solenes, sejam celebradas comunitariamente na Igreja. Recomenda-se que os próprios leigos recitem o Ofício Divino, ou juntamente com os presbíteros, ou reunidos entre si, e até cada um individualmente” (SC 100).

O esforço do Concílio foi grande no sentido de simplificação e popularização do ofício. Mas infelizmente a penetração no âmbito da oração dos fiéis foi baixíssima. Foi de certa forma marginalizada pelos encarregados de celebrá-la e de educar o povo cristão para a oração da Igreja. É compreensível essa resposta de uma certa forma se, olhando para a história da Igreja, vermos que toda mudança demora muito tempo para ser absorvida em toda a Igreja.

Na década de 80, no Brasil, um grupo de liturgistas resolveu elaborar uma modalidade de Liturgia das Horas que pudesse ser vivida de forma mais simples entre o povo. Daí nasceu o Ofício Divino das Comunidades publicado em 1988, uma tentativa de fazer chegar ao povo as riquezas estruturais da Liturgia das Horas, uma forma inculturada da Liturgia das Horas. Mesmo assim a adesão foi bem menor que o esperado.

         A maioria dos fiéis alimenta sua fé com orações devocionais diversas sem uma estruturação e unidade com a Igreja. As riquezas da Liturgia das Horas continua para muitos irmãos um tesouro escondido. Precisamos resgatar esse ritmo de oração milenar. A Liturgia das Horas é uma opção de reunião de todos os tipos de fiéis para rezar a Deus como iguais.

Postura de orar

         Alguns reclamam que o modo de rezar da Liturgia das Horas é monótono. Há que se responder em primeiro lugar que estamos rezando com textos sagrados. Usando a Palavra de Deus para falar com Deus. E isso é de uma grande riqueza, visto que “não sabemos orar como convém” e que “nossos pensamentos estão muito distantes dos pensamentos de Deus”. E que devemos rezar estes textos colocando nossa atenção e coração. O fato de haver dispersão não é culpa da Palavra de Deus, mas de nossa indisciplina. Termino citando a Regra de São Bento no capítulo 19 onde explica a maneira correta de salmodiar:

“Cremos estar em toda parte a presença divina e que ‘os olhos do Senhor vêem em todo lugar os bons e os maus’ (Pr. 15, 3). Creiamos nisso principalmente e sem dúvida alguma quando estamos presentes ao ofício divino. Lembremo-nos, pois, sempre, do que diz o Profeta: ‘Servi ao Senhor no temor’ (Salmo 2, 11). E também: ‘Salmodiai sabiamente’ (Salmo 46, 8). E ainda: ‘Cantar-vos-ei em face dos anjos’ (Salmo 137, 1). Consideremos, pois, de que maneira cumpre estar na presença da divindade e de seus anjos; e tal seja a nossa presença na salmodia, que nossa mente concorde com nossa voz.”

Encerramento do capítulo no livro

O próximo capítulo é uma breve explicação didática de como rezar a Liturgia das Horas.

Publiquei uma parte aqui no texto intitulado “As Horas Canônicas de Oração”, que você pode acessar clicando aqui.

E logo depois deste capítulo, no nosso e-book, eu coloco um anexo com o documento da Igreja principal a respeito do assunto: a Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas.

Recomendo acima de tudo que você adquira os livros físicos da Liturgia das Horas para fazer suas orações, pois a experiência é muito melhor. Esse livro é um esforço para tornar mais conhecida essa riqueza, e tornando conhecida, maior será o desejo de bem rezá-la e maior será o fruto espiritual retirado desta sublime forma de orar. Seja bem-vindo. Você não vai se arrepender.


Para os membros colaboradores do nosso canal, disponibilizo o e-book abaixo para download:

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