Primeira leitura
Do Livro do Profeta Miqueias 7,14–20
A salvação consiste no perdão das culpas
14Apascenta o teu povo com o teu cajado, o rebanho de tua herança, que mora sozinho na floresta, em meio a uma terra frutífera. Que pastem em Basã e em Galaad, como nos dias antigos! 15Como nos dias de tua saída da terra do Egito, eu lhe farei ver maravilhas! 16Que as nações vejam e se envergonhem, apesar de todo o seu poderio, que ponham a mão na boca, e seus ouvidos fiquem surdos. 17Que lambam o pó como a serpente, como os animais que rastejam sobre a terra. Elas sairão tremendo de seus abrigos para o Senhor, nosso Deus. 18Qual é o deus como tu, que tira a falta, que perdoa o crime? Em favor do resto de sua herança, ele não exaspera sempre sua cólera, mas tem prazer em conceder graça. 19Mais uma vez ele terá piedade de nós, pisará aos pés nossas faltas, lançará no fundo do mar todos os nossos pecados. 20Concederás a Jacó tua fidelidade, a Abraão tua graça, que juraste a nossos pais desde os dias de outrora.
Responsório Cf. Mq 7,19
R. O nosso Deus manifestará novamente
a sua misericórdia por nós,
* Calcará aos pés as nossas faltas,
e lançará no fundo do mar todos os nossos pecados.
V. Todos os profetas dão testemunho de que,
por meio de seu nome,
receberá a remissão dos pecados todo aquele que nele crer.
* Calcará aos pés.
Segunda leitura
Do Sermão sobre a Encarnação do Verbo, de Santo Atanásio, bispo
(Nn. 8–9: PG 25,110–111)
(Séc. IV)
O Verbo de Deus veio movido
por sua bondade para conosco
Verbo do Pai é infinitamente superior a todos, só ele podia restaurar todas as coisas, sendo o único capaz de sofrer por todos e por todos interceder junto ao Pai.
Por esse motivo, o Verbo de Deus, incorpóreo, incor- ruptível e imaterial, veio à nossa terra, embora jamais estivesse afastado dela, pois nada no mundo existiu sem Ele, mas está presente com o Pai em todas as coisas e em toda parte.
Movido porém por sua bondade para conosco, manifestou-se abertamente a nós. Via o gênero humano perecer e a morte a dominá-lo pela corrupção; via nossa ruína confirmada pela ameaça e sentença de Deus contra o pecado, e que era absurdo anular-se a lei antes de ser cumprida, embora não conviesse destruir o que Ele mesmo criara. Notava também que a malícia dos homens ultrapassava a medida, sempre crescendo para seu próprio dano, a ponto de se tornar intolerante. Finalmente, constatava que todos os homens eram réus de morte. Compadeceu-se então da enfermidade de nossa raça, comoveu-se com nossa corrupção, e não quis que a morte reinasse sobre nós. Por isso, para que não perecesse o que fora criado e não se tornasse inútil a obra do Pai ao formar o homem, assumiu um corpo semelhante ao nosso, pois não desejou apenas encarnar- se, nem somente aparecer; se apenas desejasse ser visto, poderia assumir um corpo mais perfeito; mas quis assumir o nosso. E não de qualquer modo, mas tomando-o de uma virgem intacta e incorrupta, que não conhecesse homem e não dependesse de união carnal.
O Onipotente e autor de todas as coisas construiu na Virgem um templo para si, isto é, um corpo, fazendo dele como um instrumento, no qual se manifestasse e habitasse. Assim, assumindo um corpo semelhante ao nosso, sujeito à corrupção da morte, com suma bondade o ofereceu por todos nós ao Pai, a fim de que fosse abolida, para todos os que nele morressem, a lei da corrupção promulgada contra os homens, uma vez vencida a sua força no corpo do Senhor e já não valendo contra os outros homens. E ainda para tornar incorruptíveis os que haviam recaído na corrupção, chamando-os de novo da morte à vida, e destruindo neles a morte, como palha consumida pelo fogo, em virtude do corpo que assumira e da graça da ressurreição.
O Verbo sabia que os homens não podiam destruir a corrupção senão pela morte; por outro lado, como Verbo imortal e Filho do Pai, não podia morrer. Assumiu assim um corpo mortal que, participando do Verbo e Senhor de todas as coisas, morresse por todos e, possuindo em si o Verbo, permanecesse incorruptível. Desse modo a corrupção seria finalmente afastada de todos, daí em diante, pela graça da ressurreição.
Entregando à morte o corpo que assumira, como hóstia e vítima pura de qualquer mancha, expulsou a morte de todos os seus semelhantes, pelo sacrifício oferecido por eles. Sendo o Verbo de Deus superior a todos, consagrou e ofereceu por todos o instrumento e templo do seu corpo, resgatando a vida de todos, pela promessa da ressurreição, e tornando-os incorruptíveis, por direito e merecimento.
Responsório Fl 2,6–7;1Jo 4,10
R. Cristo tinha a condição divina,
e não considerou o ser igual a Deus
como algo a que se apegar ciosamente.
* Esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de servo.
V. Deus enviou-nos o seu Filho
como vítima de expiação pelos nossos pecados.
* Esvaziou-se a si mesmo.
Oração
Nós vos pedimos, ó Deus todo-poderoso, que a vossa graça sempre nos preceda e acompanhe, para que, esperando ansiosamente a vinda do vosso Filho, possamos obter a vossa ajuda nesta vida e na outra. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.