Primeira leitura
Da Carta aos Hebreus 11,1–19
Testemunho da fé dos Santos patriarcas
A fé é a garantia dos bens que se esperam, a prova das realidades que não se veem. Foi ela que valeu aos antigos seu belo testemunho. É pela fé que compreendemos que os mundos foram organizados por uma palavra de Deus. Por isso é que o mundo visível não tem sua origem em coisas manifestas. Foi pela fé que Abel ofereceu a Deus sacrifício melhor que o de Caim. Graças a ela foi declarado justo, e Deus apresentou o testemunho dos seus dons. Graças a ela, mesmo depois de morto, ainda fala! Foi pela fé que Henoc foi arrebatado, a fim de escapar da morte; e não o encontraram, porque Deus o arrebatou. Antes de ser arrebatado, porém, recebeu o testemunho de que foi agradável a Deus. Ora, sem a fé é impossível ser-lhe agradável. Pois aquele que se aproxima de Deus deve crer que ele existe e que recompensa os que o procuram. Foi pela fé que Noé, avisado divinamente daquilo que ainda não se via, levou a sério o oráculo e construiu uma arca para salvar sua família. Pela fé, condenou o mundo, tornando-se herdeiro da justiça que se obtém pela fé. Foi pela fé que Abraão, respondendo ao chamado, obedeceu e partiu para uma terra que devia receber como herança, e partiu sem saber para onde ia. Foi pela fé que residiu como estrangeiro na terra prometida, morando em tendas com Isaac e Jacó, os coerdeiros da mesma promessa. Pois esperava a cidade que tem fundamentos, cujo arquiteto e construtor é o próprio Deus. Foi pela fé que também Sara, apesar da idade avançada, se tornou capaz de ter descendência, porque considerou fiel o autor da promessa. É por isso também que de um só homem, já marcado pela morte, nasceu a multidão comparável à dos astros do céu e inumerável como a areia da praia. Na fé, todos estes morreram, sem ter obtido a realização da promessa, depois de tê-la visto e saudado de longe, e depois de se reconhecerem estrangeiros e peregrinos nesta terra. Pois aqueles que assim falaram demonstram claramente que estão à procura de uma pátria. E se lembrassem a que deixaram, teriam tempo de voltar para lá. Eles aspiram, com efeito, a uma pátria melhor, isto é, a uma pátria celeste. É por isso que Deus não se envergonha de ser chamado o seu Deus. Pois, de fato, preparou-lhes uma cidade… Foi pela fé que Abraão tendo sido provado, ofereceu Isaac; ofereceu o filho único, ele que recebera as promessas, ele, a quem fora dito: É por Isaac que uma descendência te será assegurada. Mas ele dizia: Deus é capaz também de ressuscitar os mortos. Por isso, recuperou seu filho, como um símbolo.
Responsório Hb 11,17.19;Rm 4,17
R. Pela fé, Abraão, posto à prova,
ofereceu Isaac em sacrifício;
ele, o depositário da promessa,
sacrificava o seu filho único.
* Estava convencido de que Deus tem poder
até de ressuscitar os mortos.
V. Ele creu em Deus que vivifica os mortos
e chama à existência o que antes não existia.
* Estava convencido.
Segunda leitura
Das Homilias pascais de São Cirilo de Alexandria, bispo
(Hom. 5,7: PG 77,495–498)
Por nossa salvação, Cristo tornou-se obediente ao Pai
Esta é a série dos acontecimentos que, registrados no monumento das letras sagradas, exprimem o mistério do Salvador, como em páginas lapidares absolutamente perfeitas. E a nós, é-nos necessário iluminar com a luz brilhante da verdade as coisas que aconteceram de modo prefigurado e explicá-las, uma a uma, com mais clareza. Assim será mais fácil para os ouvintes compreender o profundo mistério de amor que nelas se esconde. Toma, pois, Abraão, homem santo, a seu filho e se apressa em levá-lo até o lugar que Deus lhe havia mostrado. O filho era conduzido pelo pai para a imolação, como símbolo e prova de que nosso Senhor Jesus Cristo não foi levado à cruz nem pelo poder dos homens nem pela perversidade de seus inimigos. A vontade de seu Pai é que, segundo um desígnio preestabelecido, permitiu que ele sofresse a morte por todos nós. Foi o que declarou a Pilatos o próprio Salvador: Tu não terias poder algum sobre mim, se não te fosse dado do alto (Jo 19,11). E em outra passagem, falando com seu Pai do céu: Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua! (Lc 22,42). Abraão tomou a lenha para o holocausto e a pôs às costas do seu filho Isaac (Gn 22,6). Sem superar ou forçar pela violência o poder da natureza divina, que porventura lhes resistisse, mas com a permissão do Pai eterno, em virtude de um plano preestabelecido e quase com a sua cooperação, os judeus puseram a cruz sobre os ombros do Salvador. Sabemos que o profeta Isaías, imune a qualquer suspeita ou mentira, é testemunha disso, quando diz: A punição a ele imposta era o preço da nossa cura. Todos nós vagávamos como ovelhas desgarradas, cada qual seguindo o seu caminho; e o Senhor fez recair sobre ele o pecado de todos nós (Is 53,5–6). Quando chegou finalmente ao lugar que lhe fora mostrado, o patriarca erigiu um altar com presteza e habilidade; certamente para entendermos que aquilo que os homens julgam ser apenas uma cruz imposta aos ombros de nosso Salvador é, diante do Pai comum de todos, um grande e excelso altar, erguido para a salvação do mundo e impregnado do perfume de uma vítima santa e puríssima. E a respeito de Cristo, flagelado em seu corpo e, mais ainda, cuspido pelos judeus com extrema audácia, escreve também o profeta Isaías: Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba (Is 50,6). Deus Pai é um só, e um só o Senhor Jesus Cristo, que é bendito pelos séculos. Para dar-nos a salvação, desprezou todo insulto e fez-se obediente ao Pai, humilhando-se até à morte. Por nosso amor, deu a própria vida, a fim de nos poder ressuscitar dos mortos pelo Espírito vivificante. E assim, depois de abrir as portas do céu, ofereceu-nos um lugar na morada celeste, colocando em presença e ante os olhos de seu Pai a natureza humana, que há tanto tempo dele se afastara. Caríssimos, por tão brilhantes feitos do nosso Salvador, prorrompam em ações de graças os lábios de todos; e as línguas todas cantem-lhe com entusiasmo hinos de louvor, fazendo seu aquele canto cheio de doçura: Por entre aclamações Deus se elevou, o Senhor subiu ao toque da trombeta (Sl 46,6). Sobe, mas depois de realizar a obra da nossa salvação; e não apenas subindo, mas levando os cativos, recebendo homens cativos como presente (cf. Sl 67,19).
Responsório: Fl 2,6.8;Is 53,5
R. Jesus Cristo, existindo na condição divina,
não ambicionou o ser igual a Deus,
* Mas humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz.
V. A punição a ele imposta era o preço da nossa paz,
e suas feridas, o preço da nossa cura.
* Mas humilhou-se.
Oração
Ó Deus, que pela vossa graça inefável nos enriqueceis de todos os bens, concedei-nos passar da antiga à nova vida, preparando-nos assim, para o reino da glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.