Primeira leitura
Da Carta aos Hebreus 6,9–20
A fidelidade de Deus, garantia de nossa esperança
Irmãos, estamos convencidos de que vós estais do lado bom, o da salvação. Pois Deus não é injusto. Não pode esquecer a vossa conduta e o amor que manifestastes por seu nome, vós que servistes e ainda servis os santos. Desejamos somente que cada um de vós demonstre o mesmo ardor em levar até o fim o pleno desenvolvimento da esperança, para não serdes lentos à compreensão, e sim imitadores daqueles que pela fé e pela perseverança, recebem a herança das promessas. Com efeito, quando Deus fez a promessa a Abraão, não havendo um maior por quem jurasse, jurou por si mesmo, dizendo: Eu te cumularei de bênçãos e te multiplicarei grandemente. Abraão foi perseverante e viu a promessa realizar-se. Os homens juram por alguém mais importante, e para impedir qualquer contestação recorrem à garantia do juramento. Por isso, Deus mostrou com insistência aos herdeiros da promessa o caráter irrevogável da sua decisão, e interveio com juramento, a fim de que por dois atos irrevogáveis, nos quais não pode haver mentira por parte de Deus, nos comuniquem encorajamento seguro, a nós que tudo deixamos para conseguir a esperança proposta. A esperança, com efeito, é para nós qual âncora da alma, segura e firme, penetrando para além do véu, onde Jesus entrou por nós, como precursor, feito sumo sacerdote para o éon, segundo a ordem de Melquisedec.
Responsório Cf. Hb 6,19.20;7,24.25
R. O Cordeiro imaculado penetrou no santuário
como nosso precursor,
feito sumo sacerdote eterno,
segundo a ordem do rei Melquisedec;
* Ele vive para sempre, intercedendo por todos nós.
V. Ele possui um sacerdócio que não passa.
Por isso, ele tem poder ilimitado para salvar aqueles que,
por seu intermédio, se aproximam de Deus.
* Ele vive.
Segunda leitura
Dos Comentários sobre os Salmos, de Santo Agostinho, bispo
(Sl 85,1: CCL 39,1176–1177)
(Séc. V)
Jesus Cristo ora por nós,
ora em nós, e recebe a nossa oração
Deus não poderia conceder dom maior aos homens do que dar-lhes como Cabeça o seu Verbo, pelo qual criou todas as coisas, e a ele uni-los como membros, para que o Filho de Deus fosse também Filho do Homem; um só Deus com o Pai, um só homem com os homens. Por conseguinte, quando dirigimos a Deus nossas súplicas, não separemos dele o Filho; e, quando o Corpo do Filho orar, não separe de si sua Cabeça. Desse modo, o único salvador de seu corpo, nosso Senhor Jesus Cristo, é o mesmo que ora por nós, ora em nós e recebe a nossa oração. Ele ora por nós como nosso sacerdote; ora em nós como nossa cabeça e recebe a nossa oração como nosso Deus. Reconheçamos nele a nossa voz, e em nós a sua voz. E quando se disser sobre o Senhor Jesus, sobretudo nos profetas, algo referente àquela humilhação aparentemente indigna de Deus, não hesitemos em atribuir a ele, já que não hesitou em fazer-se um de nós. É a ele que toda a criação serve, porque todo o universo é obra de suas mãos. Por isso, contemplamos sua divindade e majestade, quando ouvimos: No princípio era o Verbo. O Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus. Ele existia, no princípio, junto de Deus. Tudo foi feito por intermédio dele, e sem ele nada foi feito (Jo 1,1–3). Mas se nesta passagem contemplamos a divindade do Filho de Deus, que supera as mais excelsas criaturas, ouvimos também em outras passagens da Escritura o mesmo Filho de Deus que geme, ora e louva. Hesitamos então em atribuir-lhe tais palavras, porque nosso pensamento reluta em passar da contemplação de sua divindade à sua humilhação, como se fosse uma injúria reconhecer como homem aquele a quem orávamos como a Deus; por isso, o nosso pensamento fica muitas vezes perplexo, e esforça-se por alterar o sentido das palavras. Porém, não encontramos na Escritura recurso algum para aplicar tais palavras senão ao Filho de Deus, sem jamais, separá-las dele. Despertemos, pois, e estejamos vigilantes na fé. Consideremos aquele que assumiu a condição de servo, a quem há pouco contemplávamos na condição de Deus; tornando-se igual aos homens e sendo visto como homem, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até à morte (cf. Fl 2,7–8). E quis tornar suas as palavras do salmo, ao dizer, pregado na cruz: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? (Sl 21,1). Ele ora na sua condição de servo e recebe a nossa oração na sua condição de Deus; ali é criatura, aqui é Criador; sem sofrer mudança, assumiu a condição mutável da criatura, fazendo de nós, juntamente com ele, um só homem, cabeça e corpo. Nossa oração, pois, se dirige a ele, por ele e nele; oramos juntamente com ele e ele ora juntamente conosco.
Responsório Jo 16,24.23
R. Até agora, não pedistes nada em meu nome.
* Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa.
V. Se pedirdes ao Pai alguma coisa em meu nome, ele vos dará.
* Pedi e recebereis.
Oração
Ó Deus, alegrando-nos cada ano com a celebração da Quaresma, possamos participar com fervor dos sacramentos pascais e colher com alegria todos os seus frutos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo.