Quinta-feira depois da Epifania
Primeira leitura
Do Livro do Profeta Isaías 63,19–64,11
A salvação divina é implorada
63,19 Ah! se rompesses os céus e descesses!
As montanhas se derreteriam diante de ti.
64,1 Como o fogo queima os gravetos
e faz ferver a água,
assim faças conhecer teu nome aos teus inimigos:
os povos tremeriam diante de ti,
2 vendo-te operar maravilhas
que não são esperadas.
Desceste, pois, e as montanhas se derreteram diante de ti.
3 Nunca se ouviu dizer nem chegou aos ouvidos de ninguém,
jamais olhos viram que um Deus, exceto tu,
tenha feito tanto pelos que nele esperam.
4 Vens ao encontro de quem pratica a justiça com alegria,
de quem se lembra de ti em teus caminhos.
Tu te irritaste porque nós pecamos;
é nos caminhos de outrora que seremos salvos.
5 Todos nós nos tornamos imundície,
e todas as nossas boas obras são como um pano sujo;
murchamos todos como folhas,
e nossas maldades empurram-nos como o vento.
6 Não há quem invoque o teu nome,
quem se levante para encontrar-se contigo,
escondeste de nós tua face
e nos entregaste à mercê da nossa maldade.
7 Assim mesmo, Senhor, tu és nosso pai,
nós somos barro; tu, nosso oleiro,
nós todos, obra de tuas mãos.
8 Não te ires tanto, Senhor,
não continues lembrando nossos pecados;
eis-nos aqui: olha, o teu povo somos nós.
9 As cidades que santificaste tornaram-se um deserto,
Sião ficou deserta,
Jerusalém ficou devastada.
10 A casa de nossa santificação e honra,
onde nossos pais te louvaram,
foi consumida pelo fogo,
tudo o que nos era tão caro converteu-se em ruínas.
11 Acaso ficas insensível a esses males?
Não te manifestas, e nos castigarás assim tanto?
Responsório Cf. Is 56,1; Mq 4,9; Is 43,3
R. Jerusalém, cidade santa, logo virá tua salvação;
por que te gastas em lamentos?
Pereceu teu conselheiro?
Por que a dor assim te aflige?
* Eu hei de te salvar e libertar: Não tenhas medo!
V. Pois eu sou o Senhor, teu Deus, sou o Santo de Israel,
eu sou teu Redentor! * Eu hei.
Segunda leitura
Do Comentário sobre o Evangelho de São João, de São Cirilo de Alexandria, bispo
(Lib. 5, cap. 2: PG 73, 751-754)
(Séc. V)
A efusão do Espírito Santo sobre todos os homens
Tendo o Criador do universo decidido restaurar todas as coisas em Cristo, dentro da mais admirável e perfeita ordem, e restituir à natureza humana sua condição original, prometeu, junto com os outros dons que daria copiosamente, conceder o Espírito Santo. Pois, de outro modo o homem não poderia ser reintegrado na posse tranqüila e permanente desses dons.
Determinou, portanto, o tempo em que o Espírito Santo desceria sobre nós, isto é, o da vinda de Cristo, prometendo com estas palavras: Naqueles dias, a saber, nos dias do Salvador, derramarei meu Espírito sobre todo ser humano (Jl 3,1). Quando esse tempo de imensa e gratuita liberalidade trouxe ao mundo o Filho Unigênito encarnado, isto é, como homem nascido de mulher, segundo a Sagrada Escritura, novamente Deus Pai nos concedeu o seu Espírito, sendo Cristo o primeiro a recebê-lo como primícias da natureza renovada. João Batista o testemunhou dizendo: Eu vi o Espírito descer do céu, e permanecer sobre ele (Jo 1,32).
Afirma-se que Cristo recebeu o Espírito enquanto homem e enquanto convinha ao homem recebê-lo; embora seja Filho de Deus Pai e gerado de sua substância, mesmo antes da encarnação, e mais ainda, antes de todos os séculos, não se ofende ao ouvir Deus Pai declarar-lhe, depois que se fez homem: Tu és meu Filho, e eu hoje te gerei (Sl 2,7).
O Pai diz que foi gerado hoje aquele que antes dos séculos era Deus, gerado por ele, para receber-nos em Cristo como filhos adotivos. Com efeito, toda a natureza humana se encontra em Cristo enquanto homem. Assim o Pai dá ao Filho seu próprio Espírito, a fim de que em Cristo também nós o recebamos. Por esse motivo, Cristo veio em auxílio da descendência de Abraão, como está escrito, e tornou-se em tudo semelhante a seus irmãos.
O Unigênito de Deus não recebeu o Espírito Santo para si mesmo; com efeito, esse Espírito que é seu, nos é dado nele e por ele, como já dissemos antes, pois, tendo-se feito homem, tinha em si a totalidade da natureza humana, a fim de restaurá-la toda e restituir-lhe a integridade original. Podemos ver assim – se quisermos aplicar um reto raciocínio e os testemunhos da Escritura – que Cristo não recebeu o Espírito Santo para si mesmo, mas para que o recebêssemos nele; pois é também por ele que recebemos todos os bens.
Responsório Ez 37,27-28; Hb 8,8
R. Eu serei o seu Deus, serão eles meu povo:
* Quando o meu santuário estiver entre eles
e ficar para sempre,
saberão as nações que eu, o Senhor,
santifico Israel.
V. Eu hei de fazer uma nova Aliança com Judá e Israel. *Quando.
Oração
Ó Deus, pelo nascimento do vosso Filho, a aurora do vosso dia eterno despontou sobre todas as nações. Concedei ao vosso povo conhecer a fulgurante glória do seu Redentor e por ele chegar à luz que não se extingue. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.