1a - Introdução ao livro IMITAÇÃO DE CRISTO - parte 1
Vamos iniciar uma série de meditação desse livrinho extraordinário!
Irmãos, há muito tempo queria iniciar esse trabalho, que vamos fazer aos poucos. Traremos aqui trechos do livro IMITAÇÃO DE CRISTO junto com as reflexões do Frei Gilson. É um comentário muito profundo e atual.
Mas começo com essa introdução retirada do livro A PEREGRINAÇÃO INTERIOR que explica a história por detrás desse livrinho importantíssimo para nossos tempos atuais.
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Durante os séculos XIV e XV, na Europa ocidental, principalmente nos Países Baixos e ao longo do Reno, houveram fortes movimentos que buscavam promover uma vida cristã mais profunda e mais pura entre o clero e os leigos.
Um desses movimentos, o dos "irmãos da vida comum" concentrou-se em uma escola e comunidade famosa em Deventer, fundada por Gerhard de Groote, talentoso educador e ardente líder espiritual.
Nascido em Deventer em 1340, Groote descendia de família abastada e teve excelente educação universitária. Iniciou o que prometia ser uma brilhante carreira no magistério. Então, aos trinta e cinco anos, passou por uma conversão radical, depois da qual seu modo de vida mudou completamente. Durante três anos viveu em um mosteiro. Seguindo o conselho do grande mestre espiritual Jan van Ruysbroek, aceitou o cargo de pregador missionário na diocese de Utrecht. Embora nunca se ordenasse, passou vários anos viajando, para pregar contra abusos eclesiásticos e chamar o povo ao arrependimento, até essa mensagem implacável provocar sua demissão.
Dizem que durante esses anos, o povo da Holanda foi atraído para Deus, como nunca fora antes. A vida e a pregação de de Groote foram, contudo, interrompidas abruptamente. Ao levar socorro para uma vítima da peste, foi, ele próprio, acometido pela doença e logo depois morreu aos quarenta e quatro anos. Mas sua vida dedicada produzira sementes que dariam frutos em milhares de seus seguidores.
Como seu fundador e líder, os irmãos da vida comum reconheciam a corrupção generalizada que se alastrava na Igreja e muitos corajosamente protestavam e pregavam contra ela.
Em Deventer e em suas outras comunidades, muitos dos irmãos viviam juntos em casas da irmandade; outros continuaram a levar a vida normal no mundo. Todos almejavam um grau mais elevado de espiritualidade, inclusive "um modo de vida mais próximo de Deus" para si mesmos e um serviço mais dedicado ao próximo.
Um dos instrumentos mais eficazes para realizar esse programa foi fundar e dirigir escolas cristãs. Nos Países Baixos e também na Alemanha, as escolas dos irmãos eram as mais conhecidas da época. Albert Hyma, eminente historiador do movimento, deu esta imagem da vida e atividade deles:
Ensinavam e pregavam amor, obediência, paz e humildade, alimentavam os pobres, abrigavam os desabrigados, curavam os doentes, reformavam mosteiros, corrigiam abusos e escreviam livros como A Imitação. Compartilhavam o destino dos "santos ocultos", que raramente têm os nomes nos jornais, mas que, muitas vezes, exercem influência muito maior que a do herege, do herói, ou do patife'.
Os irmãos eram ardentes reformadores, mas não revolucionários.
Almejavam renovar a vida da Igreja de dentro para fora.
De fato, a vida serena dos irmãos da vida comum manifestou um forte movimento do Espírito. Por intermédio das escolas e de contatos entre cidadãos comuns, sua influência espalhou-se dos Países Baixos para a Alemanha, a Suíça, a França e mais longe.
Muitos dos grandes estudiosos e líderes religiosos da época foram seus alunos. Seu programa de renovação espiritual, chamado Devotio moderna, levou muita gente a uma vida nova de amor cristão e liberdade.
E quando, depois de algum tempo, o movimento perdeu força e uma a uma suas escolas se fecharam, o chamado à penitência, à fé e a um modo de vida consagrado a Deus continuou vivo nas páginas do notável livrinho A Imitação de Cristo.
Em 1392, um jovem estudante alemão chamado Tomás Haemerken (mais tarde conhecido como Tomás de Kempis) foi para Deventer. Sete anos mais tarde, Tomás entrou para o mosteiro da vizinha Zwolle, onde viveu até morrer em 1471, aos noventa e um anos de idade.
Pode parecer que sua vida de monge foi bastante monótona: estudar, escrever, copiar manuscritos; mas ela nos legou uma das obras mais queridas e influentes jamais escritas. Nos últimos anos, alguns estudiosos têm afirmado que o próprio Gerhard de Groote foi o autor de grande parte de A Imitação de Cristo e que Tomás de Kempis foi apenas o compilador e copista. Mesmo se ficar comprovado que isso é verdade, ainda assim a obra chegou até nós por intermédio de Tomás e a seu nome foi ligada desde o princípio.
A esse respeito, é relevante a exortação encontrada em A imitação:
"Preocupa-te com o que se diz e não com quem o disse".
A imitação compõe-se de apenas quatro breves "livros".
Três deles consistem em breves meditações, orações e preceitos, a respeito da vida cristã com Deus.
O quarto é um tratado sobre o sacramento da Eucaristia (ou da santa comunhão), que dá orientação pastoral quanto a sua correta recepção.
Escrita em latim, a obra foi traduzida para muitas línguas e já teve aproximadamente seis mil edições.
Contudo, até mesmo um livro tão importante e tão querido não deixou de ser criticado. Houve quem dissesse que ele prega demais o ascetismo, dando a impressão de que o Cristianismo consiste em desistir de toda a alegria e de todos os prazeres da vida.
Em resposta a essa acusação, devemos mencionar que o que se recomenda é o ascetismo com um propósito. Toda vida precisa ter disciplina. Também Cristo suportou muitos sofrimentos e ensinou a seus seguidores que o caminho para a vida é estreito e quase sempre difícil. E longe de apresentar apenas uma visão sombria e triste da vida, A imitação chama a atenção para o segredo da alegria verdadeira e duradoura, a saber, uma boa consciência:
"Conserva a consciência pura e guardarás a alegria" diz uma passagem importante do Livro II.
Outra crítica comum à Imitação é que sua ênfase é individualista demais: devemos "preparar nossa salvação", mas sem muita preocupação com os aspectos sociais da religião. Essas objeções podem ter certa solidez, mas nenhuma obra serve a todas as necessidades.
A imitação foi escrita para ser não um livro de orações e sim um guia para o peregrino. Ensina que as orações e a devoção são boas por si só, inteiramente à parte de qualquer propósito social a que possam servir. E sua pressuposição é que a sincera caminhada do indivíduo com Deus inevitavelmente nutre as raízes do bem-estar social e da verdadeira comunidade cristã.
Está bem evidente que nada em A imitação revela o interesse em educação dos irmãos da vida comum, contudo, as escolas deles floresceram em toda a Europa ocidental.
Para contrabalançar essa crítica, temos o testemunho de milhares que afirmam ser esta uma obra que atende às necessidades do coração humano. Em todo o mundo, as pessoas têm sido alentadas e inspiradas por sua sabedoria.
Santo Inácio de Loyola, fundador dos jesuítas, sempre a tinha sobre a mesa de seu quarto. Santa Teresinha do Menino Jesus a usava muito. Dag Hammarskjöld, ex-secretário geral das Nações Unidas, carregava-a por toda parte. O mestre espiritual Douglas Steere confessou que, embora a princípio fosse leitor relutante do livro, depois deu grande valor a sua mensagem.
Não é difícil perceber as razões para essa atração universal quando começamos a examinar mais de perto os ensinamentos fundamentais de A imitação. Longe de ser apenas negativo e repressivo, o livro expõe, em bem delineada perspectiva, os grandes princípios positivos da vida cristã. Suas palavras são muitas vezes enganosamente simples, mas desafiam as profundezas da alma.
Nos três primeiros livros de A imitação, encontramos constante ênfase em princípios centrais e básicos da prática cristã:
Oração
Leitura da Bíblia
Entrega à Vontade de Deus
Autodisciplina
Humildade
Orientação do Espírito Santo
Amor
Julgamento prático
Carregar a cruz
Depois dos persistentes ensinamentos dos três primeiros livros da Imitação, o Livro IV é um comentário minucioso sobre a fonte principal da força necessária: o sacramento da Eucaristia, a santa comunhão.
Podemos admitir francamente que se estivermos restritos apenas à Imitação, já teremos um guia plenamente adequado para nossa vida.
Traz profunda orientação sobre como devemos seguir a Cristo.
Além disso, Tomás de Kempis escreveu como monge para monges e algumas de suas afirmações não são aplicáveis fora do mosteiro. Mas conhecendo essas limitações, nenhum leitor previdente escapa à força dos ensinamentos principais da Imitação.
A essência da vida em Cristo é delineada com clareza inúmeras vezes: a entrega total de nós mesmos a Deus, uma obediência zelosa à consciência, o estudo reverente das Escrituras, o aperfeiçoamento da humildade e do amor fraterno por todos, a necessidade de carregar a cruz e de levar uma vida de oração profunda e contínua.
Por intermédio da Imitação de Cristo, Gerhard de Groote e os irmãos da vida comum são, há mais de quinhentos anos, os mestres de todo o mundo cristão.
Excetuando-se a Bíblia é provável que A imitação seja o livro cristão mais lido no mundo.
Prosseguiremos na próxima publicação.
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Dada essa primeira introdução histórica, deixo uma pergunta para vocês refletirem: Pelo contexto histórico do mundo e da crise interna da Igreja onde nasceu o movimento que gestou e deu à luz o Imitação de Cristo, ele não seria um importante guia para estes tempos nebulosos em que vivemos?
Pense, responda nos comentários e medite sobre como podemos retomar profundamente esses ensinamentos.
Deus te abençoe!