Primeira leitura
Do Livro do Deuteronômio 18,1–22
Os levitas. Os verdadeiros e os falsos profetas
Moisés continuou dizendo: “Os sacerdotes levitas, a tribo inteira de Levi, não terão parte nem herança em Israel: eles viverão dos manjares oferecidos ao Senhor e do seu patrimônio. Esta tribo não terá uma herança no meio dos seus irmãos: o Senhor é a sua herança, conforme lhe falou. Eis os direitos que os sacerdotes têm sobre o povo, sobre os que oferecem um sacrifício: do gado ou do rebanho serão dados ao sacerdote a espádua, as queixadas e o estômago. Dar-lhe-ás as primícias do teu trigo, do teu vinho novo e do teu óleo, como também as primícias da tosquia do teu rebanho. Pois foi ele que o Senhor teu Deus escolheu dentre todas as tuas tribos, ele e seus filhos, para estar diante do Senhor, teu Deus, realizando o serviço divino e dando a bênção em nome do Senhor, todos os dias. Quando vier um levita de alguma das tuas cidades, onde quer que ele more em todo Israel, e com todo o desejo do coração vier para o lugar que o Senhor houver escolhido, e oficiar em nome do Senhor seu Deus, como todos os seus irmãos levitas que permanecem lá na presença do Senhor; ele comerá uma parte igual à deles, além do que ganhar pelas vendas do seu patrimônio. Quando entrares na terra que o Senhor teu Deus te dará, não aprendas a imitar as abominações daquelas nações. Que em teu meio não se encontre alguém que queime seu filho ou sua filha, nem que faça presságio, oráculo, adivinhação ou magia, ou que pratique encantamentos, que interrogue espíritos ou adivinhos, ou ainda que invoque os mortos; pois quem pratica essas coisas é abominável ao Senhor, e é por causa dessas abominações que o Senhor teu Deus as desalojará em teu favor. Tu serás íntegro para com o Senhor teu Deus. Eis que as nações que vais conquistar ouvem oráculos e adivinhos. Quanto a ti, isso não te é permitido pelo Senhor teu Deus. O Senhor teu Deus suscitará um profeta como eu no meio de ti, dentre os teus irmãos, e vós o ouvireis. É o que tinhas pedido ao Senhor teu Deus no Horeb, no dia da Assembleia: “Não vou continuar ouvindo a voz do Senhor meu Deus, nem vendo este grande fogo, para não morrer”, e o Senhor me disse: “Eles falaram bem. Vou suscitar para eles um profeta como tu, do meio dos seus irmãos. Colocarei as minhas palavras em sua boca e ele lhes comunicará tudo o que eu lhe ordenar. Caso haja alguém que não ouça as minhas palavras, que este profeta pronunciar em meu nome, eu próprio irei acertar contas com ele. Todavia, se o profeta tiver a ousadia de falar em meu nome uma palavra que eu não lhe tiver ordenado, ou se ele falar em nome de outros deuses, tal profeta deverá ser morto.” Talvez perguntes em teu coração: “Como vamos saber se tal palavra não é uma palavra do Senhor?” Se o profeta fala em nome do Senhor, mas a palavra não se cumpre, não se realiza, trata-se então de uma palavra que o Senhor não disse. Tal profeta falou com presunção. Não o temas!”
Responsório Cf. Dt 18,18;Lc 20,13;Jo 6,14
R. Farei surgir para o meu povo um profeta,
porei em sua boca as minhas palavras
* E ele lhes comunicará tudo o que eu lhe mandar.
V. Mandarei meu filho único.
Este é verdadeiramente o profeta,
aquele que deve vir ao mundo.
* E ele lhes.
Segunda leitura
Do Comentário sobre o Evangelho de São João, de São Cirilo de Alexandria, bispo
(Lib. 3, cap. 3: PG 73,427–434)
O mistério de Cristo nos é abertamente anunciado
Farei surgir para eles, do meio de seus irmãos, um profeta semelhante a ti. Porei em sua boca as minhas palavras e ele lhes comunicará tudo o que eu lhe mandar. Eu mesmo pedirei contas a quem não escutar as minhas palavras que ele pronunciar em meu nome (Dt 18,18–19). O Deuteronômio é quase uma repetição e um resumo dos livros de Moisés. Outra vez o mistério de Cristo nos é abertamente anunciado, expressamente prefigurado na pessoa de Moisés, segundo a revelação de Deus: Farei surgir para eles, do meio de seus irmãos, um profeta semelhante a ti. Portanto, a mediação de Moisés, que servia ao povo, manifestando-lhe as decisões de Deus, foi instituída para auxílio da fraqueza dos homens daquele tempo. Aqui deves colocar a figura em relação com a realidade e entenderás, por estas palavras, que é Cristo o mediador entre Deus e os homens. É ele que dá a conhecer aos que são dóceis — com voz humana, já que por nosso amor nasceu de uma mulher — a vontade inefável de Deus Pai. Só ele é que a conhece com segurança, enquanto Filho que procede do Pai e enquanto Sabedoria do próprio Deus, que tudo penetra, até as profundezas divinas. Nós não podíamos ver com os olhos do corpo a inefável, pura e simples glória da divindade, que está acima de tudo o que é criado: O homem não pode ver-me e viver (Ex 33,20). Por isso foi necessário que o Verbo Unigênito de Deus assumisse a nossa fraqueza, revestindo-se deste corpo mortal conforme a inefável disposição da providência, e nos manifestasse a suprema vontade de Deus Pai, segundo nos disse: Eu vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai (Jo 15,15). E também: Eu não falei por conta própria, mas o Pai que me enviou, ele é quem me ordenou o que eu devo dizer e falar (Jo 12,49). Portanto, quanto à forma de mediação, é preciso considerar que se Moisés, manifestando aos filhos de Israel os decretos divinos, era a figura de Cristo, a sua mediação era apenas um serviço. A mediação de Cristo, no entanto, é voluntária e mística, uma vez que, por sua própria natureza, ele atinge aquilo de que é mediador, enquanto pertence tanto à humanidade quanto à divindade de Deus Pai. Cristo, como está escrito, é a finalidade da Lei, a plenitude da Lei e dos Profetas.
Responsório Mt 8,17;Is 53,4.6
R. Ele tomou as nossas dores
* E carregou as nossas enfermidades.
V. O Senhor fez recair sobre ele o pecado de todos nós.
* E carregou.
Oração
Ó Deus, que nos mandastes ouvir o vosso Filho amado, alimentai nosso espírito com a vossa palavra, para que, purificado o olhar de nossa fé, nos alegremos com a visão da vossa glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.