Primeira leitura
Da Carta de São Paulo aos Colossenses 3,5–16
A vida do ser humano novo
Irmãos: 5 Fazei morrer o que em vós pertence à terra: imoralidade, impureza, paixão, maus desejos e a cobiça, que é idolatria. 6 Tais coisas provocam a ira de Deus contra os que lhe resistem. 7 Antigamente vós estáveis enredados por estas coisas e vos deixastes dominar por elas. 8 Agora, porém, abandonai tudo isso: ira, irritação, maldade, blasfêmia, palavras indecentes, que saem dos vossos lábios. 9 Não mintais uns aos outros. Já vos despojastes do homem velho e de sua maneira de agir 10 e vos revestistes do homem novo, que se renova segundo a imagem do seu Criador, em ordem ao conhecimento. 11 Aí não se faz distinção entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, inculto e selvagem, escravo e livre, mas Cristo é tudo em todos.
12 Vós sois amados por Deus, sois os seus santos eleitos. Por isso, revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, 13 suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai vós também. 14 Mas, sobretudo, amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição. 15 Que a paz de Cristo reine em vossos corações, à qual fostes chamados como membros de um só corpo. E sede agradecidos.
16 Que a palavra de Cristo, com toda a sua riqueza, habite em vós. Ensinai e admoestai-vos uns aos outros com toda a sabedoria. Do fundo dos vossos corações, cantai a Deus salmos, hinos e cânticos espirituais, em ação de graças.
Responsório Cf. Gl 3,27–28
R. No Cristo batizados, revestimo-nos de Cristo.
* Todos nós somos um só em Jesus Cristo, Senhor nosso.
V. Já não há judeu nem grego, não há livre nem escravo;
não há homem nem mulher. * Todos nós.
Segunda leitura
Do Tratado sobre o Evangelho de São João, de Santo Agostinho, bispo
(Tract. 17, 7–9: CCL 36, 174–175)
(Séc. V)
O duplo preceito da caridade
Veio o Senhor, mestre da caridade, cheio de caridade, cumprir prontamente a palavra sobre a terra (cf. Rm 9,28 Vulg.), como dele foi anunciado, e sintetizou a lei e os profetas nos dois preceitos da caridade.
Recordai comigo, irmãos, quais são esses dois preceitos. É preciso que os conheçais profundamente, de tal modo que não vos venham à mente só quando vo-los lembramos, mas os conserveis sempre bem gravados em vossos corações. Recordai-vos em todo momento de que devemos amar a Deus e ao próximo: a Deus de todo o nosso coração, de toda a nossa alma, e de todo o nosso entendimento; e ao próximo como a nós mesmos (cf. Mt 22,37–39).
Esses dois preceitos devem ser sempre lembrados, meditados, conservados na memória, praticados, cumpridos. O amor de Deus ocupa o primeiro lugar na ordem dos preceitos, mas o amor do próximo ocupa o primeiro lugar na ordem da execução. Pois, quem te deu esse duplo preceito do amor não podia ordenar-te amar primeiro ao próximo e depois a Deus, mas primeiramente a Deus e depois ao próximo.
Entretanto, tu que ainda não vês a Deus, merecerás vê-lo se amas o próximo; amando-o, purificas teu olhar para veres a Deus, como afirma expressamente São João: Quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê (1Jo 4,20).
Ouviste o mandamento: Ama a Deus. Se me disseres: “Mostra-me a quem devo amar”, que responderei senão o que disse o mesmo São João: A Deus, ninguém jamais viu? (Jo 1,18). E para não pensares que está absolutamente fora de teu alcance ver a Deus, o mencionado apóstolo afirma: Deus é amor: quem permanecer no amor, permanece com Deus (1Jo 4,16). Ama, pois, o teu próximo e procura no teu íntimo a origem deste amor; lá verás a Deus o quanto agora te é possível.
Começa, portanto, a amar o próximo. Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa o pobre sem abrigo; quando encontrares um nu, cobre-o, e não dês as costas ao teu semelhante (cf. Is 58,7). Procedendo assim, o que alcançarás? Então, brilhará tua luz como a aurora (Is 58,8). Tua luz é o teu Deus; ele é a aurora que despontará sobre ti depois da noite desta vida. Essa luz não conhece princípio nem ocaso, porque existe eternamente.
Amando o próximo e cuidando dele, vais percorrendo o teu caminho. E para onde caminhas senão para o Senhor Deus, para aquele que devemos amar de todo o nosso coração, de toda a nossa alma, de toda a nossa mente? É certo que ainda não chegamos até junto do Senhor; mas já temos conosco o próximo. Ajuda, portanto, aquele que tens ao lado enquanto caminhas neste mundo, e chegarás até junto daquele com quem desejas permanecer para sempre.
Responsório 1Jo 4,10–11.16
R. Deus Pai nos amou, por primeiro,
e enviou-nos seu Filho Unigênito
como vítima por nossos pecados.
* Se Deus nos amou deste modo,
também nós nos devemos amar.
V. Conhecemos e cremos no amor,
que Deus manifesta por nós. * Se Deus.
Oração
Ó Deus, quisestes que a humanidade do vosso Filho, nascendo da Virgem Maria, não fosse submetida à humilhação do homem decaído. Concedei que, participando desta nova criação, sejamos libertados da antiga culpa. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.