Primeira leitura
Do Livro do Profeta Isaías 40,1–11
Consolai Jerusalém
1“Consolai, consolai meu povo, diz vosso Deus, 2falai ao coração de Jerusalém e dizei-lhe em alta voz que seu serviço está cumprido, que sua iniquidade foi expiada, que ela recebeu da mão do Senhor paga dobrada por todos os seus pecados”. 3Uma voz clama: “No deserto, abri um caminho para o Senhor; na estepe, aplainai uma vereda para o nosso Deus. 4Seja entulhado todo vale, todo monte e toda colina sejam nivelados; transformem-se os lugares escarpados em planície, e as elevações, em largos vales. 5Então a glória do Senhor há de revelar-se e toda carne, de uma só vez, o verá, pois a boca do Senhor o afirmou”. 6Eis uma voz que diz: “Clama”, ao que pergunto: “Que hei de clamar?” — “Toda carne é erva e toda a sua graça como a flor do campo. 7Seca a erva e murcha a flor, quando o vento do Senhor sopra sobre elas; (com efeito, o povo é erva) 8seca a erva, murcha a flor, mas a palavra do nosso Deus subsiste para sempre”. 9Sobe a um alto monte, mensageira de Sião; eleva tua voz com vigor, mensageira de Jerusalém; eleva a voz, não temas; dize às cidades de Judá: “Eis aqui o vosso Deus!” 10Eis aqui o Senhor Deus: ele vem com poder, seu braço assegura a sua autoridade; eis com ele o seu salário, diante dele a sua recompensa. 11Como o pastor ele apascenta seu rebanho, com o braço reúne os cordeiros, carrega-os no regaço, conduz carinhosamente as ovelhas que amamentam.
Responsório Is 40,2; Zc 1,16.17
R. Falai ao coração de Jerusalém e dizei-lhe em alta voz:
* O seu serviço está cumprido,
a sua iniquidade está expiada!
V. Eu me volto para Jerusalém com misericórdia;
o Senhor consolará Sião novamente,
elegerá novamente Jerusalém.
* O seu serviço.
Segunda leitura
Do Comentário sobre o Profeta Isaías, de São Cirilo de Alexandria, bispo
(Lib. 4, Or. 2: PG 70,955–958)
(Séc. V)
Tornou-se para nós, da parte
de Deus Pai, misericórdia e justiça
No capítulo precedente, o profeta estendeu-se longamente a respeito de Ciro, rei dos persas e medos, mostrando que fora mandado devastar a Babilônia e destruí-la à força, libertando Israel da escravidão e dos grilhões do cativeiro, para que reconstruísse o templo de Jerusalém. Deus o impeliu contra os caldeus, abrindo-lhe as portas de bronze e quebrando as trancas de ferro (cf. Sl 106,16; Is 45,2).
Mas esse relato tinha um caráter particular, pois só os da raça de Israel deviam ser postos em segurança e libertos dos trabalhos da escravidão. Em seguida o profeta passa a falar do próprio Emanuel, apresentado por Deus Pai para pregar o perdão aos cativos, a vista aos cegos e libertar da perdição os que estavam presos pelos grilhões dos pecados, a fim de fazer voltar a ele os que livrara da tirania do demônio, e os levar a Deus Pai.
Tornou-se pois mediador entre Deus e os homens. Por meio dele, num só Espírito, somos reconciliados com o Pai, e é ele a nossa paz, conforme as Escrituras. Restaurou o seu templo santo, isto é, a Igreja, apresentando-a a si como virgem pura, sem mancha, ruga ou qualquer coisa semelhante, mas santa e imaculada (cf. Ef 5,27). Assim, bem podemos ver prefigurados em Ciro e suas ações os esplêndidos benefícios divinos, feitos por Deus aos habitantes de toda a terra. É esse o sentido do texto em questão.
Alegrem-se pois as alturas do céu, isto é, os anjos e arcanjos, que possuem na cidade celeste admirável e luminosa habitação! Dizemos ser causa de alegria, mesmo para os espíritos celestes, a conversão dos transviados da terra por meio de Cristo, o Salvador de todos nós, que restituiu a vista aos cegos e a salvação aos condenados. Se eles se alegram por um só pecador que faça penitência, muito mais devem alegrar-se ao contemplarem toda a terra salva. Por isso diz o profeta: Gotejai, ó céus, lá do alto, derramem as nuvens a justiça (Is 45,8).
Dizemos que a misericórdia é a caridade, a plenitude da lei, acompanhada pela justiça evangélica, da qual o Cristo se tornou para nós o doador e mestre. Pode-se dizer também ser o mesmo nosso Senhor Jesus Cristo a misericórdia e a justiça, a nascer e germinar da terra. Tornou-se para nós, da parte de Deus Pai, misericórdia e justiça, pois obtivemos por ele misericórdia e, justificados pela remissão dos pecados, recebemos dele a justiça, que pode reconduzir-nos a todos os bens, e pela qual somos salvos.
Não admiremos que se ordene à terra germinar a justiça, pois diz também o salmista, referindo-se a Deus Pai e ao próprio Emanuel: Realizou a justiça no meio da terra (Sl 73,12). Pois o Cristo não nos trouxe o seu corpo do alto ou do céu, mas nasceu segundo a carne, de uma mulher, das que vivem na terra. Assim, quando se diz que é fruto e germe da terra, devemos entender que, segundo a carne, nasceu de uma mulher, escolhida para essa missão, embora pertencesse à terra.
Responsório Sl 95,11;Is 49,13;Sl 71,1
R. Ó céus, dai gritos de alegria, ó terra, regozija-te!
Os montes rompam em alegres cantos!
* Pois o Senhor consolou o seu povo,
ele se compadece dos seus aflitos.
V. Que em seus dias floresça a justiça
e muita paz até o fim das luas;
* Pois o Senhor consolou.
Oração
Ó Deus, criador e redentor do gênero humano, quisestes que o vosso Verbo se encarnasse no seio da Virgem. Sede favorável à nossa súplica, para que o vosso Filho Unigênito, tendo recebido nossa humanidade, nos faça participar da sua vida divina. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.