Primeira leitura
Do Livro de Samuel 1Sm 31,1-4; 2Sm 1,1-16
A morte de Saul
Naqueles dias, 31,1os filisteus atacaram Israel, e os homens de Israel fugiram perseguidos por eles e caíram, feridos de morte, no monte Gelboé. 2Os filisteus fizeram o cerco a Saul e seus filhos, e mataram Jônatas, Abinadab e Melquisua, filhos de Saul. 3Todo o peso do combate se concentrou sobre Saul. Os arqueiros o surpreenderam, e foi gravemente ferido por eles. 4Então disse Saul ao seu escudeiro: “Desembainha a tua espada e transpassa-me, para que não venham esses incircuncisos e escarneçam de mim.” Mas o seu escudeiro não quis obedecer-lhe, porque estava assombrado. Então Saul arrancou de sua espada e lançou-se sobre ela.
1,1Depois da morte de Saul, Davi, ao voltar da vitória sobre os amalecitas, ficou dois dias em Siceleg. 2Ao terceiro dia, chegou um homem que vinha do acampamento, de junto de Saul. Tinha as vestes rasgadas e a cabeça coberta de pó. Ao chegar perto de Davi, atirou-se por terra e se prostrou. 3Disse-lhe Davi: “Donde vens?” Ele respondeu: “Escapei com vida do acampamento de Israel.” 4Davi perguntou: “Que aconteceu? Dize logo!” O homem disse: “As tropas fugiram do campo de batalha, e muitos caíram e estão mortos. O próprio Saul e seu filho Jônatas pereceram!”
5Perguntou Davi ao que trouxera a notícia: “Como sabes que Saul e seu filho Jônatas estão mortos?” 6O mensageiro respondeu: “Eu estava casualmente no monte Gelboé e vi quando Saul se atirou sobre a própria lança, quando se aproximavam os carros e cavaleiros. 7Ele voltou-se, viu-me e me chamou. Eu disse: ‘Eis-me aqui!’ 8Ele perguntou-me: ‘Quem és tu?’ E eu lhe disse: ‘Sou um amalecita’. 9Ele então me disse: ‘Aproxima-te e mata-me porque estou com muita vertigem, apesar de sentir a vida toda em mim.’ 10Então me aproximei dele e lhe dei a morte, porque eu sabia que ele não poderia sobreviver, tendo caído. Depois apanhei o diadema que ele trazia na cabeça e o bracelete que estava no seu braço e os trouxe ao meu senhor.”
11Então Davi apanhou as suas vestes e as rasgou, e todos os homens que o acompanhavam fizeram o mesmo. 12Lamentaram-se, choraram e jejuaram até à tarde por Saul e por Jônatas, seu filho, e por causa do povo de Deus e da casa de Israel, porque haviam caído pela espada.
13Davi perguntou ao moço que lhe trouxera as notícias: “Donde és tu?” Ele respondeu: “Eu sou filho de um estrangeiro residente, de um amalecita.” 14Disse-lhe Davi: “Como não receaste levantar a mão contra o ungido do Senhor para tirar-lhe a vida?” 15Davi chamou um dos moços e disse: “Aproxima-te e mata-o!” O moço o golpeou e ele morreu. 16Disse-lhe Davi: “Que o teu sangue caia sobre a tua cabeça, porque a tua boca testemunhou contra ti quando disseste: ‘Fui eu quem matou o ungido do Senhor’.”
Responsório 2Sm 1,21.19
R. Ó montes de Gelboé, sobre vós
nunca mais desçam nem o orvalho, nem a chuva.
* Aí tombaram na batalha os heróis de Israel.
V. Que o Senhor visite os montes,
que estão ao derredor, mas passando,
deixe atrás esses montes de Gelboé.
* Aí tombaram.
Segunda leitura
Dos “Sermões” de Santo Agostinho, bispo
(Serm. 47,1.2.3.6, De ovibus: CCL 41,572-573.575-576)
(Séc. V)
É ele o Senhor, nosso Deus;
nós, povo de suas pastagens
As palavras que cantamos contêm nossa declaração: somos ovelhas de Deus, porque ele é o Senhor nosso Deus, que nos fez. Ele é o nosso Deus, nós somos o povo de suas pastagens e as ovelhas de suas mãos. Não foram os pastores que fizeram suas ovelhas, não foram eles que criaram os animais que levam a pastar. Mas o Senhor, nosso Deus, por ser Deus e criador, foi ele mesmo que fez para si as ovelhas que possui e que apascenta. Não foi um a criar aquelas que ele apascenta, nem outro a apascentar as que criou!
Declaramos, pois, neste cântico, que somos as suas ovelhas, o povo de suas pastagens, as ovelhas de suas mãos. Ouçamos agora o que nos diz, a nós, a suas ovelhas. Primeiro, ele falava aos pastores; agora, porém, fala às ovelhas. Postos entre os pastores, nós ouvíamos as suas palavras com tremor, e vós, com segurança. Que acontece nestas palavras de hoje? Será que por alternância, nós com segurança, vós, com tremor? Absolutamente não. Primeiro porque, se somos pastores, o pastor ouve com tremor não apenas o que é dito aos pastores, mas também o que se diz às ovelhas. Se ouve tranquilo o que se diz às ovelhas, pouco se importa com elas. Em seguida, e já o dissemos à vossa caridade, há duas coisas a considerar em nós: uma, que somos cristãos; outra que somos prelados. Por sermos prelados, somos contados entre os pastores, se formos bons. Por sermos cristãos, convosco também somos ovelhas. Portanto, quer fale o Senhor aos pastores, quer fale às ovelhas, temos de ouvir tudo com tremor, sem que diminua a solicitude de nosso coração.
Ouçamos então, irmãos, a razão pela qual o Senhor castiga as ovelhas más e o que promete às suas. E vós, assim diz, sois minhas ovelhas. Antes do mais, que felicidade ser do rebanho de Deus, tão grande que se alguém nela pensar, irmãos, até mesmo nas lágrimas e nas tribulações de agora, lhe vem imensa alegria. De quem foi dito: Que apascentas Israel, é aquele mesmo de quem se diz: Não cochilará nem há de dormir quem guarda Israel. Por conseguinte, ele vigia sobre nós acordados, vigia sobre nós adormecidos. Se, pois, o rebanho de um homem se sente seguro pelo pastor homem, que segurança não deve ser a nossa por ser Deus mesmo que nos apascenta, e não apenas porque nos alimenta, mas também porque nos fez?
Vós, ovelhas minhas, assim diz o Senhor Deus: eis que distingo entre ovelha e ovelha, entre bodes e cabritos. Que fazem aqui no rebanho de Deus os cabritos? Nas mesmas pastagens, nas mesmas fontes e, no entanto, cabritos destinados à esquerda se misturam aos da direita. São tolerados antes de ser separados. Provam a paciência das ovelhas à semelhança da paciência de Deus. Ele fará, sim, a separação, uns à esquerda, outros à direita.
Responsório Jo 10,27-28; Ez 34,15
R. Conheço as minhas ovelhas e elas me ouvem,
me seguem; dou a elas a vida eterna.
* E jamais deixarei que pereçam.
E ninguém vai roubá-las de mim.
V. Eu mesmo irei apascentar minhas ovelhas
e as farei repousar.
* E jamais.
Hino
Te Deum
Oração
Ó Deus, que mostrais a luz da verdade aos que erram para retomarem o bom caminho, dai a todos os que professam a fé rejeitar o que não convém ao cristão, e abraçar tudo o que é digno desse nome. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.