Primeira leitura
Do Primeiro Livro de Samuel 19,8-10; 20,1-17
Amizade entre Davi e Jônatas
Naqueles dias, 19,8como a guerra havia recomeçado, Davi partiu para combater os filisteus: levou-os a uma grande derrota, e fugiram diante dele. 9Ora, um mau espírito da parte de Deus se apossou de Saul: quando ele estava assentado em sua casa, com a lança na mão, Davi dedilhava a cítara, 10Saul tentou transpassar Davi contra a parede, mas Davi se desviou e a lança se encravou na parede. Então Davi fugiu e escapou naquela noite.
20,1Então Davi fugiu das celas de Ramá e veio ter com Jônatas, dizendo: “Que fiz eu? Qual a minha falta? Que crime cometi contra teu pai, para que procure tirar-me a vida?” 2Ele lhe respondeu: “Longe de ti tal pensamento! Tu não morrerás. Meu pai não empreende coisa alguma, importante ou não, sem confiá-la a mim. Por que ocultaria tal plano de mim? Impossível!” 3Davi fez este juramento: “Teu pai sabe perfeitamente que me favoreces e, portanto, diz consigo: ‘Não saiba Jônatas nada a respeito disto, para que não sofra’. Mas, pela vida do Senhor e pela tua própria vida, existe só um passo entre mim e a morte.”
4Jônatas disse a Davi: “Que queres que eu faça por ti?” 5Davi respondeu a Jônatas: “Amanhã é lua nova e deverei estar com o rei para comer: deixa-me ir, porém, para esconder-me no campo até à tarde. 6Se o teu pai notar a minha ausência, dirás: ‘Davi me pediu com insistência para ir a Belém, sua cidade, porque ali se celebra o sacrifício anual para todo o clã.’ 7Se ele disser: ‘Está bem’, o teu servo está salvo; porém, se se encolerizar, saiba que está inteiramente decidido a fazer o pior. 8Agirás com fidelidade para com teu servo, pois tu levaste teu servo a concluir contigo um pacto em nome do Senhor; mas, se cometi crime, mata-me tu mesmo; por que me lavarias a teu pai?” 9Jônatas replicou: “Afasta de ti tal ideia! Se eu soubesse com certeza que meu pai está decidido a fazer cair sobre ti uma desgraça, não te contaria?” 10Davi disse a Jônatas: “E quem me avisará, se o teu pai te responder duramente?”
11Então Jônatas disse a Davi: “Vem, saiamos para o campo.” E saíram ambos ao campo. 12Jônatas disse a Davi: “Pelo Senhor, Deus de Israel! Sondarei meu pai depois de amanhã: se tudo for favorável a Davi e se, por consequência, eu não te mandar nenhum aviso, nem te informar, 13que o Senhor faça a Jônatas o mesmo mal e ainda lhe faça outro! Se parecer bem a meu pai trazer sobre ti a desgraça, eu to farei saber e te deixarei partir; irás são e salvo e que o Senhor esteja contigo como esteve com o meu pai! 14Não é, se eu ainda estiver vivo, não é? Tu agirás para comigo com a fidelidade que Deus exige, não é? Se eu morrer, 15não retires jamais tua fidelidade para com minha casa, mesmo quando o Senhor tiver suprimido, um por um, da face do solo os inimigos de Davi”. 16Jônatas concluiu um pacto com a casa de Davi: “o Senhor pedirá contas disso a Davi.” 17Jônatas fez Davi prestar juramento pela amizade que tinha por ele, pois ele o amava com toda a sua alma.
Responsório Pr 17,17; 1Jo 4,7b
R. Amigo verdadeiro é aquele que ama sempre,
* E o irmão se reconhece nas horas de angústia.
V. Todo aquele que ama,
é nascido de Deus e conhece a Deus.
* E o irmão.
Segunda leitura
Do Tratado “sobre a amizade espiritual”, de santo Elredo, abade
(Lib. 3: PL 195,692-693)
(Séc. XII)
Verdadeira, perfeita e eterna amizade
Jônatas, jovem de grande nobreza, sem olhar para a coroa régia nem para o futuro reinado fez um pacto com Davi, igualando assim, pela amizade, o súdito ao senhor. Deu preferência a Davi, mesmo quando este foi expulso por seu pai o rei Saul, tendo de se esconder no deserto, como condenado à morte, destinado à espada. Jônatas então humilhou-se para exaltar o amigo perseguido: Tu, são suas palavras, serás rei e eu serei o segundo depois de ti.
Que espelho estupendo da verdadeira amizade! Admirável! O rei, furioso contra o servo, excitava todo o país contra um possível rival do reino. Assim, acusava sacerdotes de traição, trucidando-os por uma simples suspeita. Percorria as matas, esquadrinhava os vales, cercava com suas tropas os montes e penhascos, fazendo todos prometerem tornar-se vingadores da indignação real.
Entretanto, Jônatas, o único que poderia ter razão de invejar, só ele julgou dever resistir a seu pai, oferecendo a paz ao amigo, aconselhando-o em tão grande adversidade, preferindo a amizade ao reino: Tu serás rei e eu serei o segundo depois de ti. Em contraste, vede como o pai estimulava a inveja do adolescente contra o amigo, apertava-o com repreensões, amedrontava-o com ameaças de ser despojado do reino, prometendo privá-lo da nobreza.
Quando pronunciou sentença de morte contra Davi, Jônatas não abandonou o amigo. Por que deve morrer Davi? que culpa tem? que fez ele? Tomou sua vida em suas mãos e feriu o filisteu e tu te alegraste. Por que então irá morrer? A tais palavras, louco de cólera, o rei tentou transpassar Jônatas, com a lança contra a parede, ameaçando aos gritos: Filho de mãe indigna, bem sei que gostas dele para vergonha tua, confusão e infâmia de tua mãe. Depois vomitou todo o veneno sobre o coração do jovem, acrescentando incentivo à sua ambição, alimento à inveja, estímulo à rivalidade e à amargura: Enquanto viver o filho de Isaí, não se estabelecerá o teu reino. Quem não se abalaria com tais palavras?
Quem não se encheria de inveja? Que amor, que agrado, que amizade elas não corromperiam, não diminuiriam, não fariam esquecer? Jônatas, o moço cheio de afeição, guardou o pacto da amizade, forte contra as ameaças, paciente contra o furor, desprezou o reino por causa da amizade, esquecido das glórias, bem lembrado da graça. Tu serás rei e eu serei o segundo depois de ti.
Esta é a verdadeira, perfeita, estável e eterna amizade, aquela que a inveja não corrompe, suspeita alguma diminui, não se desfaz pela ambição. Assim provada, não cede; assim batida, não cai; assim sacudida por tantas censuras, mostrase inabalável e, provocada por tantas injúrias, permanece imóvel. Vai, então, e faze tu o mesmo.
Responsório Eclo 6,14.17
R. O amigo fiel é refúgio seguro.
* Quem achou tal amigo, encontrou um tesouro.
V. Quem teme ao Senhor,
também há de ter uma boa amizade,
porque tal ele é, tal será seu amigo.
* Quem achou.
Oração
Ó Deus, que pela humilhação do vosso Filho reerguestes o mundo decaído, enchei os vossos filhos e filhas de santa alegria, e dai aos que libertastes da escravidão do pecado o gozo das alegrias eternas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.