Primeira leitura
Do Primeiro Livro de Samuel 1,1-19
A esterilidade de Ana e sua prece
1Houve um homem de Ramataim-Sofim, da montanha de Efraim, que se chamava Elcana, filho de Jeroam, filho de Eliú, filho de Tou, filho de Suf, um efraimita. 2Elcana tinha duas mulheres: Ana era o nome de uma, e a outra chamavase Fenena. Fenena tinha filhos; Ana, porém, não tinha nenhum. 3Anualmente, aquele homem subia da sua cidade para adorar e oferecer sacrifícios a Deus dos Exércitos, em Silo. - Os dois filhos de Eli, Hofni e Fineias, sacerdotes do Senhor, estavam ali.
4No dia em que oferecia sacrifícios, Elcana tinha o costume de dar porções à sua mulher Fenena e a todos os seus filhos e filhas, 5porém a Ana, embora a amasse mais, dava apenas uma porção escolhida, pois Deus tinha fechado seu seio. 6A sua rival também a irritava humilhando-a, porque Deus tinha fechado seu seio. 7E assim fazia Elcana todos os anos, sempre que eles subiam ao templo do Senhor; Fenena a ofendia. E Ana chorava e não se alimentava. 8Então Elcana, o seu marido lhe dizia: “Ana, por que choras e não te alimentas? Por que teu coração está triste? Será que eu não valho para ti mais do que dez filhos?”
9Depois que comeram e beberam, Ana se levantou. O sacerdote Eli estava sentado em sua cadeira, no limiar da porta do santuário do Senhor. 10Na amargura de sua alma, ela orou ao Senhor e chorou muito. 11E fez um voto, dizendo: “Senhor dos Exércitos, se quiseres dar atenção à humilhação da tua serva e te lembrares de mim, e não te esqueceres da tua serva e lhe deres um filho homem, então eu o consagrarei ao Senhor por todos os dias da sua vida, e a navalha não passará sobre a sua cabeça.”
12Como prolongasse sua oração ao Senhor, Eli observava a sua boca. 13Ana apenas murmurava: seus lábios se moviam, mas não se podia ouvir o que ela dizia, e por isso Eli julgou que ela estivesse embriagada. 14Então lhe disse Eli: “Até quando estarás embriagada? Livra-te do teu vinho!” 15Ana, porém, lhe respondeu assim: “Não, meu senhor, eu sou uma mulher atribulada; não bebi vinho nem bebida forte: derramo a minha alma perante Deus. 16Não julgues a tua serva como uma vadia. É por excesso de sofrimento e de afrontas que tenho falado até agora.” 17Eli então lhe disse: “Vai em paz, e que o Deus de Israel te conceda o que lhe pediste.” 18Respondeu-lhe ela: “Ache a tua serva graça aos teus olhos.” E a mulher seguiu o seu caminho; comeu e o seu aspecto não era mais o mesmo.
19Levantaram-se bem cedo e, depois de se terem prostrado diante do Senhor, voltaram à sua casa, em Ramá. Elcana conheceu sua mulher Ana, e o Senhor se lembrou dela.
Responsório 1Sm 1,11; Sl 112,9
R. Senhor dos exércitos,
se vos dignardes olhar para a aflição de vossa serva,
e vos lembrardes de mim;
se não vos esquecerdes de vossa escrava
e lhe derdes um filho varão,
* Eu o consagrarei ao Senhor durante todos os dias de sua vida.
V. E a mulher, que, antes, era estéril,
ele a faz, em sua casa, mãe feliz de muitos filhos.
* Eu o consagrarei.
Segunda leitura
Do Tratado “sobre a Oração do Senhor”, de São Cipriano, bispo e mártir
(Nn. 22-23)
(Séc. III)
Depois do alimento, peçamos o perdão do pecado
Perdoa as nossas dívidas, como nós perdoamos aos nossos devedores. Depois do alimento, pedimos o perdão do pecado: quem é alimentado por Deus, viva também em Deus; cuide não só da vida presente e temporal, mas sobretudo da eterna, à qual se pode chegar se os pecados são perdoados, pecados que o Senhor, no Evangelho, chama dívidas: Perdoei toda a tua dívida, porque me pediste (Mt 18,32).
Mas, com que urgência necessária, salutar e previdente se nos adverte que somos pecadores e devemos rogar pelos nossos pecados! Pois, ao pedirmos a misericórdia de Deus, tomamos consciência de nós mesmos.
Para que ninguém se contente consigo, presumindo-se inocente, nem, exaltando-se, avance ainda mais para a própria ruína, temos a tarefa de pedir perdão, a cada dia, pelos nossos pecados, lembrando-nos que pecamos cotidianamente.
Disso, aliás, também nos previne João, na epístola: Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está conosco. Se, porém, confessarmos nossos pecados, o Senhor é fiel e justo para perdoá-los (1Jo 1,8-9).
Ele, portanto, nos lembra de duas coisas: devemos rogar pelos nossos pecados, e conseguiremos a indulgência quando o fizermos. Por isso, diz-se que o Senhor é fiel no cumprimento de sua promessa, ou seja, o perdão dos pecados: ensinou-nos a orar nessa intenção, prometendo a indulgência e a misericórdia de um Pai.
Cristo, então, condicionou o perdão divino à remissão das dívidas que os outros têm conosco. Devemos, portanto, lembrar que não podemos conseguir o perdão que pedimos pelos nossos pecados, se não fizermos o mesmo em relação aos nossos devedores. Nesse sentido, lê-se em outra passagem: Na medida em que medirdes, sereis medidos (Mt 7,2). Assim, aquele servo que recebera do dono o perdão de toda a sua dívida e a seguir não quis fazer o mesmo para o companheiro, foi preso e encarcerado. O Senhor retirou-lhe o perdão porque lhe faltou indulgência para com o companheiro.
Com mais força ainda, Cristo reafirma, com toda a sua autoridade, este princípio: E, quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas (Mc 11,25). Não te restará, pois, a menor escusa no dia do juízo, quando fores julgado conforme tua sentença para com os outros: como fizeste, assim te será feito.
Deus preceituou que devemos ser pacificadores (Mt 5,9), concordes e unânimes em sua casa. Ele quer que perseveremos, tal como nos fez pelo segundo nascimento, a fim de que permaneçam na Sua paz os que vivem em Deus e tenham uma só alma e um só sentir os que têm um só Espírito. O Senhor não aceita o sacrifício do dissidente, aliás, manda que volte do altar e se reconcilie antes com o irmão. Só então as nossas orações serão inspiradas à paz e Deus as apreciará. O máximo sacrifício, aos olhos de Deus, é a nossa paz e concórdia fraternal, é o povo reunido na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Responsório Sl 30,2.4; 24,18
R. Junto de vós, Senhor, me refugio.
Não seja eu confundido para sempre.
Vós sois minha rocha e fortaleza:
* haveis de me guiar e dirigir,
por amor de vosso nome.
V. Vede minha miséria e meu sofrimento,
e perdoai-me todas as faltas:
* haveis de me guiar e dirigir,
por amor de vosso nome.
Oração
Senhor, nosso Deus, dai-nos por toda a vida a graça de vos amar e temer, pois nunca cessais de conduzir os que firmais no vosso amor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.