Primeira leitura
Do Livro dos Juízes 8,22-23.32; 9,1-15.19-20
O povo de Deus tenta proclamar um rei
Naqueles dias, 8,22o povo de Israel disse a Gedeão: “Sê nosso soberano, tu, o teu filho e o teu neto, porque nos salvaste das mãos de Madiã.” 23Gedeão, porém, lhes respondeu: “Não serei eu vosso soberano, nem tampouco meu filho, porque é o Senhor quem será vosso soberano.” 32Gedeão, filho de Joás, terminou os seus dias numa velhice feliz e foi sepultado no túmulo de Joás, seu pai, em Efra de Abiezer.
9.1Abimelec, filho de Jerobaal, veio a Siquém, para junto dos irmãos de sua mãe, e lhes dirigiu estas palavras, como também a todo o clã da casa paterna de sua mãe: 2“Dizei, peço-vos, aos senhores de Siquém: Que será melhor para vós: que setenta homens, todos os filhos de Jerobaal, dominem sobre vós, ou que um só homem domine? E lembrai-vos de que eu sou osso vosso e carne vossa.” 3Então os irmãos de sua mãe falaram a todos os senhores de Siquém nos mesmos termos, e o coração deles se inclinou para Abimelec, porque diziam: “É nosso irmão!” 4E lhe deram setenta siclos de prata do templo de Baal-Berit, e Abimelec se serviu desse dinheiro para contratar uns vadios, aventureiros, que o seguiram. 5Veio à casa de seu pai, em Efra, e matou os seus irmãos, filhos de Jerobaal, setenta homens, sobre uma mesma pedra. Entretanto, Joatão, o filho mais novo de Jerobaal, escapou porque tinha-se escondido. 6Depois, todos os senhores de Siquém e toda Bet-Melo se reuniram e proclamaram rei a Abimelec perto do carvalho da estrela que está em Siquém.
7Levaram a notícia a Joatão, e ele subiu ao cume do monte Garizim e lhes disse em alta voz: “Senhores de Siquém, ouvi-me, para que Deus vos ouça! 8Um dia as árvores se puseram a caminho para ungir um rei que reinasse sobre elas, disseram à oliveira: ‘Reina sobre nós!’
9A oliveira lhes respondeu: ‘Renunciaria eu ao meu azeite, que tanto honra aos deuses como aos homens, a fim de balançar-me por sobre as árvores?’ 10Então as árvores disseram à figueira: ‘Vem tu, e reina sobre nós!’ 11A figueira lhes respondeu: ‘Iria eu abandonar minha doçura e o meu saboroso fruto, a fim de balançar-me por sobre as árvores?’ 12As árvores disseram então à videira: ‘Vem tu, e reina sobre nós!’ 13A videira lhes respondeu: ‘Iria eu abandonar meu vinho novo, que alegra os deuses e os homens, a fim de balançar-me por sobre as árvores?’ 14Então todas as árvores disseram ao espinheiro: ‘Vem tu, e reina sobre nós!’ 15E o espinheiro respondeu às árvores: ‘Se é de boa-fé que me ungis como rei sobre nós, vinde e abrigai-vos à minha sombra. Se não, sairá fogo dos espinheiros e devorará os cedros do Líbano!’ 19 - se, pois, foi de boa-fé e com lealdade que agistes hoje para com Jerobaal e a sua casa, então que Abimelec faça a vossa alegria e vós a sua! 20Se não, que saia fogo de Abimelec e devore os senhores de Siquém e de Bet-Melo, e que saia fogo dos senhores de Siquém e de Bet-Melo para devorar Abimelec!”
Responsório Jz 8,23; Ap 5,13b
R. Eu não reinarei sobre vós nem meu filho será vosso rei.
* É o Senhor que será vosso rei.
V. Ao que está assentado no trono e ao Cordeiro,
honra, glória e louvor e poder pelos séculos. * É o Senhor.
Segunda leitura
Do Tratado “sobre a Oração do Senhor”, de São Cipriano, bispo e mártir
(Nn. 13-15: CSEL 3,275-278)
(Séc. III)
Venha a nós o vosso reino.
Seja feita a vossa vontade
A oração continua. Venha a nós o vosso reino. Pedimos que o reino de Deus se torne presente a nós, da mesma forma que solicitamos seja em nós santificado o seu nome. Porque, quando é que Deus não reina? Ou quando para ele começou o reino que sempre existiu e nunca deixará de ser? Pedimos a vinda de nosso reino, prometido por Deus e adquirido pelo sangue e paixão de Cristo, a fim de que nós que fomos, outrora, escravos do mundo, reinemos depois, conforme ele nos anunciou, pelo Cristo glorioso, ao dizer: Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino que vos está preparado desde a origem do mundo.
Pode-se igualmente, irmãos diletíssimos, entender que o próprio Cristo é o reino de Deus, cuja vinda pedimos todos os dias. Estamos ansiosos por ver esta vinda o mais depressa possível. Sendo ele a ressurreição, pois nele ressurgimos, assim também se pode pensar que ele é o reino de Deus, pois nele reinaremos. Pedimos, é claro, o reino de Deus, o reino celeste, já que há um reino terrestre. Mas quem já renunciou ao mundo está acima desse reino terrestre e de suas honrarias.
Acrescentamos ainda: Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu. Não para que Deus faça o que quer, mas para que possamos fazer o que Deus quer. Pois quem impedirá a Deus de fazer tudo quanto quiser? Mas porque o diabo se opõe a que nossa vontade e ações em tudo obedeçam a Deus, oramos e pedimos que se faça em nós a vontade de Deus. Que se faça em nós é obra da vontade de Deus, isto é, resultado de seu auxílio e proteção, porque ninguém é forte por suas próprias forças. Com efeito, é a indulgência e a misericórdia de Deus que o protegem. Finalmente, manifestando a fraqueza de homem, diz o Senhor: Pai, se possível, afaste-se de mim este cálice e, dando aos discípulos o exemplo de renunciar à própria vontade e de aceitar a de Deus, acrescentou: Contudo não o que eu quero, mas o que tu queres.
A vida humilde, a fidelidade inabalável, a modéstia nas palavras, a justiça nas ações, a misericórdia nas obras, a disciplina nos costumes; o não fazer injúrias; o tolerar as recebidas; o manter a paz com os irmãos; o amar a Deus de todo o coração; o amá-lo por ser Pai; o temê-lo por ser Deus; o nada absolutamente antepor a Cristo, pois também ele não antepôs coisa alguma a nós; o aderir inseparavelmente à sua caridade; o estar ao pé de sua cruz com coragem e confiança, quando se tratar de luta por seu nome e sua honra, o mostrar firmeza ao confessá-lo por palavras, e, no interrogatório, o manter a confiança naquele por quem combatemos, e, na morte, o conservar a paciência que nos coroará, tudo isto é querer ser coerdeiro de Cristo, é cumprir o preceito de Deus, é realizar a vontade do Pai.
Responsório Ap 22,12; Jr 17,10
R. Eis que venho em breve,
* E a minha recompensa está comigo,
para dar a cada um conforme as suas obras.
V. Eu, porém, o Senhor, sondo os corações e escruto os rins.
* E a minha recompensa.
Oração
Ó Deus, força daqueles que esperam em vós, sede favorável ao nosso apelo, e, como nada podemos em nossa fraqueza, dai-nos sempre o socorro da vossa graça, para que possamos querer e agir conforme vossa vontade, seguindo os vossos mandamentos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.