Primeira leitura
Do Livro dos Juízes 11,1-9.29-40
Voto e vitória de Holofernes
1Jefté, o galaadita, era um guerreiro valente. Era filho de uma prostituta. Galaad era o pai de Jefté. 2A mulher de Galaad, porém, também lhe deu filhos, e estes, quando cresceram, expulsaram Jefté dizendo: “Não terás parte na herança de nosso pai, porque és filho de uma mulher estrangeira.” 3Jefté fugiu para longe de seus irmãos e se estabeleceu na terra de Tob. Reuniu em torno de si uma turma de bandidos, que andavam com ele.
4Ora, passado algum tempo, os amonitas fizeram guerra contra Israel. 5Logo que os amonitas atacaram a Israel, os anciãos de Galaad partiram à procura de Jefté na terra de Tob. 6“Vem” disseram-lhe, “sê o nosso comandante, para que façamos guerra contra os amonitas.” 7Mas Jefté respondeu aos anciãos de Galaad: “Não fostes vós que me odiastes e me expulsastes da casa de meu pai? Por que vindes a mim agora que vos achais em aflição?” 8Responderam os anciãos de Galaad a Jefté: “É por isso que agora viemos te procurar. Vem conosco; combaterás os amonitas e serás o nosso chefe, e também de todos os habitantes os habitantes de Galaad.” 9Jefté respondeu aos anciãos de Galaad: “Se me viestes buscar para combater os amonitas e para que o Senhor os entregue na minha mão, então serei o vosso chefe.”
29Então o espírito do Senhor veio sobre Jefté, que atravessou Galaad e Manassés, passou por Masfa de Galaad e, de Masfa de Galaad, passou aos amonitas. 30E Jefté fez um voto ao Senhor: “Se entregares os amonitas nas minhas mãos, 31aquele que sair primeiro da porta da minha casa para vir ao meu encontro quando eu voltar são e salvo do combate contra os amonitas, esse pertencerá ao Senhor, e eu o oferecerei em holocausto.” 32Jefté passou aos amonitas para os atacar, e Deus os entregou nas suas mãos. 33Ele os derrotou desde Aroer até Menit - vinte cidades - e até Abel-Carmim. Foi uma grande derrota; e os amonitas foram assim subjugados pelos israelitas.
34Quando Jefté voltou a Masfa, à sua casa, eis que a sua filha saiu ao seu encontro dançando ao som de tamborins. Era a sua única filha. Além dela, não tinha filho nem filha. 35Logo que a viu, rasgou as suas vestes e bradou: “Ai! Ai! filha minha! Tu me prostraste em angústia! Tu estás entre os que fazem minha desgraça! Fiz um voto ao Senhor e não posso recuar!” 36Então ela lhe respondeu: “Meu pai, tu assumiste esse compromisso com Deus. Trata-me, pois, segundo o que prometeste, porque o Senhor concordou em te vingar de teus inimigos, os amonitas.” 37Depois, ela disse a seu pai; “Concede-me apenas isto: deixa-me sozinha durante dois meses. Irei errando pelos montes e, com as minhas amigas, lamentarei a minha virgindade.” 38“Vai”, disse-lhe ele. E deixou-a ir por dois meses. Ela se foi, portanto, com suas amigas, e lamentou a sua virgindade pelos montes. 39Decorridos os dois meses, retornou a seu pai e ele cumpriu o voto que fizera. Ela não conhecera varão. Procede daí este costume em Israel: 40de ano em ano, as filhas de Israel saem em quatro dias celebrar sobre a filha de Jefté, o galaadita.
Responsório Eclo 5,1-3; Sir 37,15
R. Não te apresses em abrir a boca;
que teu coração não se apresse
em proferir palavras diante de Deus.
* Quando fizeres um voto a Deus, realiza-o sem delonga,
porque Deus não é favorável aos insensatos.
V. Mas em todas as coisas pede ao Altíssimo
que dirija os teus passos na verdade.
*Quando fizeres um voto a Deus.
Segunda leitura
Do Tratado “sobre a Oração do Senhor”, de São Cipriano, bispo e mártir
(Nn. 15-16)
(Séc. III)
Nada antepor a Cristo
A vontade de Deus é a que Cristo ensinou e cumpriu. Humildade na conversação, estabilidade na fé, discrição nas palavras, justiça no agir, misericórdia nas obras, disciplina nos costumes. Vontade de Deus é não cometer injustiças e tolerar aquelas que sofremos, manter a paz com nossos irmãos, amar a Deus com todo o coração: amandoo como Pai, temendo-o como Deus; nada absolutamente antepor a Cristo, porque Ele também nada antepôs a nós. Vontade de Deus é unir-se inseparavelmente a seu amor, abraçar-se à sua cruz com firmeza e fé; quando estiver em discussão seu nome e honra, testemunhar fielmente em seu favor, permanecer firmes nessa boa causa, quando por Ele lutamos; aceitar, enfim, de bom grado, a morte, pela qual seremos coroados.
Isso é querer ser coerdeiros de Cristo, isso é praticar o preceito de Deus, isso é cumprir a vontade do Pai.
Exijamos que seja feita a vontade de Deus assim no céu como na terra; pois nisso se baseia a nossa felicidade e salvação. De fato, possuímos um corpo terreno e um espírito celeste, somos, ao mesmo tempo, terra e céu, por isso oramos que em ambos, corpo e espírito, seja cumprida a vontade de Deus. Há uma luta entre a carne e o espírito, guerra cotidiana; não conseguimos fazer o que queremos, pois, de um lado o espírito é atraído pelas coisas celestiais e divinas, por outro, a carne pelas coisas mundanas e temporárias. Por isso, pedimos que, com ajuda de Deus, haja paz entre estes dois adversários, para que, cumprindo a vontade de Deus em espírito e carne, seja salva a alma renascida por Ele no batismo. É aquilo que abertamente o Apóstolo Paulo diz: Porque os desejos da carne se opõem aos do Espírito, e estes aos da carne; pois são contrários uns aos outros. É por isso que não fazeis o que quereríeis. Se, porém, vos deixais guiar pelo Espírito, não estais sob a lei. Ora, as obras da carne são estas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, superstição, inimizades, brigas, ciúmes, ódio, ambição, discórdias, partidos, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes. Dessas coisas vos previno, como já vos preveni: os que as praticarem não herdarão o Reino de Deus! Ao contrá- rio, o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança. Contra estas coisas não há lei (Gl 5,17-23). Por isso, devemos perguntar, mesmo com contínuas orações diárias, que se cumpra em nós a vontade de Deus no céu e na terra; porque esta é vontade de Deus: que aquilo que é terreno seja posposto às coisas do céu e prevaleça aquilo que é espiritual e divino.
Responsório Mt 7,21; Mc 3,35
R. Aquele que faz a vontade de meu Pai,
que está nos céus,
*Entrará no Reino dos céus.
V. Aquele que faz a vontade de Deus,
esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe:
* Entrará no Reino dos céus.
Oração
Ó Deus, força daqueles que esperam em vós, sede favorável ao nosso apelo, e, como nada podemos em nossa fraqueza, dai-nos sempre o socorro da vossa graça, para que possamos querer e agir conforme vossa vontade, seguindo os vossos mandamentos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.